Título: A pior crise palestina
Autor:
Fonte: O Globo, 18/12/2006, O Mundo, p. 20

TEL AVIV. O ex-primeiro-ministro Ahmed Qurei, do Fatah, diz que nem mesmo eleições gerais trarão estabilidade. Conhecido como Abu Alah, o antecessor do premier Ismail Haniyeh afirma que a crise é a pior da história palestina. Ele teme que o Hamas insista em se reeleger e conquiste boa parcela dos votos, sobretudo nos campos de refugiados. Falando ao GLOBO por telefone de Ramallah, Qurei diz que, apesar da administração fracassada, o grupo radical não chegou ao fim de sua conturbada trajetória política.

Caso haja eleições a curto prazo, as chances de renovação de partidos, candidatos e propostas é quase nula. A antecipação das eleições pode trazer mudanças reais à política palestina?

AHMED QUREI: Estamos numa situação muito difícil de ser contornada e o mais importante é evitar uma guerra civil declarada. Pode-se dizer que chegamos ao fundo do poço, pois não há mais confiança em ninguém. O exercício da democracia renova as esperanças do povo palestino, que está precisando de uma perspectiva de futuro. O fracasso do governo Hamas dá ao Fatah a chance de reconquistar a confiança dos eleitores. O momento agora é de trabalhar nas ruas, acalmando o público e dando a eles alternativas.

Que opções o Fatah oferece aos palestinos caso recupere o poder nas próximas eleições?

QUREI: Em primeiro lugar, o Fatah oferece a experiência de 40 anos no comando da política interna e nas negociações com Israel. A falta de experiência política é um dos fatores que derrubou qualquer tentativa de manobra de Ismail Haniyeh. Além disso, o Fatah tem um programa, que é respeitar os acordos assinados entre a Organização para a Libertação da Palestina e Israel, mantendo aberto o diálogo com o exterior e colocando fim ao embargo econômico. Um governo unido e com uma política externa definida pode começar a resolver os problemas internos.

O Hamas fracassou e não cumpriu nenhuma de suas promessas de campanha. O senhor acredita que este fracasso possa selar o fim do grupo como partido político?

QUREI: Eu não diria que é o fim. O Hamas tem um orgulho imenso de ter chegado às urnas democraticamente e, além disso, ainda conta com um apoio muito grande da população, mesmo com a crise e a miséria. Muitos acreditam no Hamas por motivos religiosos e outros, por questão de agradecimento e respeito, com toda a ajuda social prestada informalmente aos necessitados, sobretudo nos campos de refugiados de Gaza, antes de chegar ao governo. O Hamas não vai desistir fácil.