Título: Lula enfrenta apetite do PT
Autor: Camarotti, Gerson e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 27/12/2006, O País, p. 3

Em reunião com presidente, petistas devem pedir mais cargos e a saída de Meirelles do BC

Com a preocupação de não perder espaço para os demais partidos da base aliada no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT vai hoje ao Palácio do Planalto, onde deve voltar a praticar o fogo amigo, dificultando as negociações para um governo de coalização a partir de 2007. Os petistas pretendem deixar claro que a legenda não aceitará passivamente reduzir sua participação no governo. Pelo contrário: na reunião da Comissão Política do PT com Lula, prevista para as 15h, haverá cobrança pela ampliação do número de ministérios, para atender todas as tendências petistas, e por mudanças no rumo da política monetária. Na avaliação dos petistas, essa guinada passa pela troca do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

O apetite do PT pode esbarrar na expectativa dos demais aliados. A bancada do PMDB na Câmara chegou a ter uma reunião marcada para hoje, que foi adiada ontem à noite devido às dificuldades de parlamentares de viajar, em meio à crise da aviação civil. Apesar do adiamento, os peemedebistas não escondem o desejo de ampliar sua participação no governo. Procurado ontem pelo GLOBO, o presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, se recusou a falar sobre o debate de cargos.

No Planalto, a avaliação é de que os petistas adotaram a estratégia de cobrar a ampliação de ministérios para conseguir, ao menos, manter o espaço atual. A maior preocupação do partido é com o avanço do PMDB. Por isso, os petistas passaram a demonstrar interesse por pastas hoje em poder de aliados como Saúde, Comunicações e Cidades ¿ esta com o PP.

Na reunião com o presidente, o PT deve explicitar o interesse pela manutenção de petistas nos ministérios da área social e em outros setores considerados estratégicos. Mesmo que sejam obrigados a dividir com os aliados os cargos de primeiro escalão, os petistas vão se manifestar contra a concessão de pastas com ¿porteira fechada¿, sistema pelo qual um partido indica os ocupantes de todos os cargos, do comando aos postos inferiores.

Petistas querem mudança na política econômica

Mesmo cientes de que não terão todas as reivindicações atendidas, os representantes da Comissão Política do PT devem insistir na necessidade de o presidente promover mudanças na política econômica, a começar pela substituição do presidente do Banco Central.

¿ Vamos sentar para discutir mudanças na política econômica e garantir o que foi prometido na campanha de Lula. É preciso uma política de redução da taxa de juros. Vamos conversar também sobre a permanência de Henrique Meirelles ¿ disse a vice-presidente do PT, deputada Maria do Rosário (RS).

O terceiro vice-presidente do PT, Jilmar Tatto, bate na mesma tecla:

¿ É senso comum no PT a preocupação com o crescimento econômico e a distribuição de renda. O partido sugere, não de forma oficial, que Meirelles deveria sair, até para sinalizar a preocupação do governo com o crescimento.

¿ O PT é favorável à redução da taxa de juros e de uma política de desenvolvimento. Na minha opinião, Meirelles deveria deixar o governo ¿ acrescentou o secretário de Relações Internacionais do partido, Valter Pomar.

Entre as áreas em que o PT pretende estender sua bandeira, há ministérios controlados por outras legendas, como o das Comunicações, hoje com o PMDB. Na área social, o PT está de olho nas pastas das Cidades (atualmente com o PP), da Saúde (com o PMDB) e da Previdência Social (ocupada por um técnico).

¿ Essas pastas cumprem um papel estratégico para aquilo que o PT entende que deve ser a linha do segundo mandato ¿ disse Pomar.

Segundo o dirigente petista, o partido entende que algumas funções no Palácio do Planalto, da chamada cota pessoal do presidente, não devem ser incluídas na conta dos partidos. Entre elas estão a Casa Civil, a Secretaria-Geral da Presidência e a Secretaria das Relações Institucionais. Curiosamente, todas sob domínio do PT.

Peemedebistas ensaiaram ontem uma reação. O partido jogou para Lula a responsabilidade de conciliar os interesses da base, num claro sinal de descontentamento com o PT.

¿ O PT tem as suas reivindicações. Mas é o presidente Lula que terá que arbitrar e ver o que é conveniente para ele, tendo em vista a força política de cada partido ¿ disse o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP).

¿ É preciso saber o que o presidente Lula vai dar. Ele é quem vai conduzir esse processo à luz dos interesses e tendo em vista as votações no Congresso ¿ emendou o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA).

Outro tema espinhoso na reunião deve ser a disputa pelo comando da Câmara. Apesar de Lula já ter manifestado preferência pela permanência do presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), os petistas deverão insistir na candidatura do líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP).