Título: Ajuda federal na segurança
Autor: Rocha, Carla e Vasconcellos, Fábio
Fonte: O Globo, 02/01/2007, Rio, p. 18

Ogovernador Sérgio Cabral pediu que as tropas da Força Nacional de segurança se desloquem imediatamente para o Rio, que vem sofrendo uma onda de ataques do tráfico desde quinta-feira passada. A proposta será discutida com o secretário nacional de segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, que virá hoje ao Rio. A informação foi dada ontem pelo próprio governador, durante a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília. De manhã, ao assumir o cargo em cerimônia na Assembléia Legislativa, Cabral classificou de facínoras os bandidos responsáveis pela onda de terror e pediu um minuto de silêncio em homenagem às vítimas.

Com um discurso duro, ele afirmou, para cerca de 500 convidados no Palácio Tiradentes, que o seu governo não se intimidará.

- Esses facínoras, esses covardes, terão a resposta de um governo sério, que defende a ordem - disse. - Neste momento, eu peço um minuto de silêncio em solidariedade a essas vítimas, que, de maneira covarde e vil, foram atacadas.

O governador disse que está disposto a pedir até a ajuda do Exército. Ele vai conversar com os comandos da Marinha, da Aeronáutica e do Exército no Rio, para que eles reforcem sua presença nos locais onde já atuam e têm quartéis.

- A Aeronáutica, nos aeroportos. A Marinha, no Centro da cidade. O Exército, no subúrbio e na Zona Oeste - enumerou Cabral.

Rio terá gabinete de segurança integrada

A cerimônia de posse de Cabral começou com um atraso de meia hora. Ao falar para os deputados, o governador pediu a ajuda deles para governar e lembrou a boa relação que pretende manter com o governo federal. Ontem, Cabral já deu a primeira demonstração do que pregou, ao ter uma rápida conversa com Lula na saída do plenário da Câmara, em Brasília. O presidente se mostrou preocupado com a violência no estado.

- Vi seu discurso na TV e pensei: "Vou me preparar para o meu". Depois, precisamos ver o negócio da segurança no Rio - disse Lula.

Cabral anunciou ainda que já combinou com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a instalação de um gabinete de segurança integrada no Rio, no próximo dia 15, a exemplo de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo. O governador anunciou que assinará convênios com o prefeito Cesar Maia, para modificar a estrutura de funcionamento dos batalhões da PM na Ilha do Governador e em Copacabana. Ele explicou que hoje os PMs trabalham 24 horas a cada 72. A proposta é que trabalhem oito horas.

- Vamos oferecer uma gratificação. O governo do estado entra com vale-transporte e o prefeito, com R$700 por homem na Polícia Civil, nas duas delegacias de Copacabana e da Ilha do Governador e nos batalhões (desses dois locais). Essa será uma experiência piloto e estará em prática em dez dias - disse o governador.

O secretário de segurança Pública, José Mariano Beltrame, adiantou que hoje mesmo adotará medidas para intensificar o policiamento nas ruas, principalmente nas vias expressas. De acordo com ele, os PMs cedidos a órgãos públicos terão 30 dias para se apresentar. Outra possibilidade é a criação de um banco de horas. Com isso, o estado pagaria hora extra para os PMs trabalharem em dias de folga no reforço do policiamento. Evitando comentar a onda de ataques e o envolvimento de policiais em milícias, Beltrame, no entanto, desabafou:

- Eu também sou um cidadão e não agüento mais. A polícia não vai mais apenas reagir aos atos criminosos, vai se antecipar a eles.

O secretário informou ainda que, entre suas primeiras medidas, está a criação de uma diretoria de assuntos internos na PM, que vai investigar desvios de conduta de policiais, no lugar da corregedoria. Também será instalado um centro de inteligência, que, segundo Beltrame, deverá ser um dos mais modernos da América Latina.

Cabral chegou para a cerimônia de posse no Palácio Tiradentes acompanhado da mulher, Adriana Anselmo Cabral, e de três filhos, João Pedro, de 18 anos, Marco Antônio, de 15, e José Eduardo, de 10, que entrou de mãos dadas com o pai. Na subida das escadarias da Alerj, o governador foi recebido pelos guardas de honra da Polícia Militar. Os pai dele, o jornalista Sérgio Cabral, e a mãe, Magali, também foram à cerimônia. A avó Regina, de 92 anos, foi outra que fez questão de marcar presença.

"Nosso governo vai ganhar a guerra"

A entrada de convidados na cerimônia foi muito controlada e até a mulher de um deputado foi barrada porque não estava credenciada. Falando de improviso, Cabral prometeu valorizar o trabalho do policial, mas fez alusão à participação de alguns nas milícias que passaram a disputar o poder com o tráfico de drogas em favelas do Rio.

- A ordem pública se faz com polícia, prestigiando os nossos policiais, e combatendo aqueles que desonram a polícia - afirmou. - O nosso governo não vai tergiversar para garantir tranqüilidade e segurança ao povo do estado do Rio.

Mais tarde, no Palácio Laranjeiras, ao receber o cargo da ex-governadora Rosinha Garotinho, Cabral voltou a tocar no assunto segurança.

- O nosso governo vai ganhar a guerra contra esses criminosos, nós vamos dar segurança à nossa população. Não é uma figura de retórica. Vamos trabalhar de mãos dadas com o governo federal. Nosso governo não vacilará, porque ele não se vê diminuído por pedir o auxílio de forças federais para garantir a segurança do Rio - afirmou.

Logo após chegar à Alerj, Cabral passou pelo gabinete do presidente da Casa, Jorge Picciani (PMDB), onde ficou apenas alguns minutos. Ao entrar no plenário, foi aplaudido de pé pelos convidados. Ele cumprimentou o deputado federal Francisco Dornelles (PP), um dos principais aliados na campanha eleitoral, com um longo abraço.

Picciani lembrou a passagem de Cabral, a quem sucedeu na presidência, pela Alerj. Ele chamou o governador de um "autêntico carioca da gema", que imprimiu um estilo próprio, acabando com mordomias como o pagamento de jetons e os altos salários aos chamados marajás do Legislativo. E disse que seguiu o exemplo deixado por Cabral, que foi presidente da Alerj entre 1995 e 2001, apesar das diferenças que os separam.

- Eu, um homem da roça. Vossa excelência, um cosmopolita - brincou Picciani.

Emocionado, Cabral devolveu os elogios:

- Tomar posse no Palácio Tiradentes é para mim uma grande emoção. Nesta Casa aprendi muito, aprendi a respeitar o mandato popular, a pluralidade, a diversidade de idéias. E quatro anos depois do meu primeiro mandato, com apenas 31 anos de idade, esta Casa levou-me à presidência do Poder Legislativo.

Quando deixava o Palácio Tiradentes, Cabral foi surpreendido pela guarda de honra da PM, que fez continência e soou o toque militar usado para chefes de estado.