Título: Álcool mais caro
Autor: França, Mirelle
Fonte: O Globo, 04/01/2007, Economia, p. 19

O ano mal começou e, mais uma vez, o álcool já está dando dor-de-cabeça aos consumidores. Ontem, dos 23 postos pesquisados pelo GLOBO nas zonas Norte, Sul e Centro do Rio, dez apresentaram aumento de até 6,76% nos preços do litro do álcool hidratado, usado diretamente como combustível. O exemplo de maior variação foi encontrado no posto Mini Praça, de bandeira branca, localizado na Praça da Bandeira, onde o litro subiu de R$1,479 para R$1,579. O aumento é resultado do reajuste de 4,59% no preço cobrado pelos usineiros às distribuidoras nos últimos dias. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-USP), o litro do álcool hidratado subiu de R$ 0,80596 - na semana de 18 a 22 de dezembro - para R$0,84299 na semana encerrada no último dia 28.

- Por causa da entressafra da cana-de-açúcar, o preço do litro do álcool hidratado subiu cerca de R$0,10 no último mês. Mas durante os últimos cinco meses, até o início de dezembro, o valor ficou praticamente estável, em torno de R$0,75. É natural que isso aconteça nesta época do ano. O aumento para o consumidor ocorre porque as distribuidoras não fazem estoque - explica o diretor-técnico da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues.

De acordo com o vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), Alísio Vaz, como os preços são livres, é impossível prever qual será o reajuste no preço do álcool hidratado que será aplicado pelas distribuidoras aos postos de combustíveis. Ele projeta, no entanto, que o aumento de R$0,10 nos preços nas usinas poderá representar uma alta de R$0,15 nas bombas para o consumidor do Rio (já incluídos os impostos). Com isso, o litro do álcool, atualmente em torno de R$1,63, em média, subiria para R$1,78, uma alta de 9,2%.

Postos temem queda no consumo

De acordo com Rodrigo Mello, economista do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Município do Rio (Sindicomb), o aumento médio para os postos do Rio na última semana ficou em 4,76%, e as altas são repassadas para os preços nas bombas. Mas, como os preços são livres, o economista disse que não há como arriscar uma média de aumento direto ao consumidor. Para Mello, os aumentos nos preços poderão inibir o consumo de álcool na cidade. Segundo ele, o consumo de gás natural veicular (GNV) é maior no Rio. A frota total de veículos com conversão para gás natural no Brasil chega a 1,277 milhão. O Rio é o estado com o maior número de carros movidos a GNV, cerca de 41% do total.

- O governo deveria ter um estoque regulador de álcool, para que na entressafra não fossem registradas tantas oscilações de preços - afirma Mello.

Ontem, o médico Aécio Moreira encontrou o litro do álcool R$0,10 mais caro, a R$1,899, no posto Júlio de Castilhos (BR), em Copacabana: - Está cada vez mais desvantajoso abastecer com álcool, apesar de a gasolina ser mais cara. Além de o preço estar subindo, o carro rende menos com o álcool.

Apesar de mais barato, o álcool proporciona menor autonomia, devido às características do combustível. Por isso, um carro flex abastecido com o derivado da cana rodará, em média, o equivalente a 70% da quilometragem percorrida pelo mesmo modelo abastecido com gasolina. Por exemplo: se com gasolina no tanque um automóvel bicombustível rodar 500 quilômetros até consumir todo o combustível, com álcool o carro vai parar aos 350 quilômetros.

Para saber até onde vale a pena usar um ou outro, basta multiplicar o preço da gasolina por 0,7. Se o valor obtido for superior ao preço do álcool, vale abastecer com este derivado da cana.