Título: Chegou a hora dos estrangeiros
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 07/01/2007, Economia, p. 29

As atividades de exploração de petróleo no país vão desempenhar um papel importante no crescimento da economia. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com base em projetos já anunciados, concluiu que no período de 2007 a 2010 serão investidos no setor petrolífero, R$183,6 bilhões (US$85,3 bilhões). Desse total, 25% serão investimentos realizados por outras empresas e não pela Petrobras. Isso significa que várias empresas privadas, estrangeiras e nacionais, vão aplicar R$45,9 bilhões (US$21,3 bilhões) no desenvolvimento de projetos petrolíferos no Brasil. É o início do grande ciclo de investimentos no setor depois da quebra do monopólio em 1998.

Uma boa parcela desses empreendimentos está no Estado do Rio. Segundo especialistas do setor, cerca de 85% do total destinados a exploração e produção estão sendo direcionados à Bacia de Campos. Além disso, o estado vai abrigar o novo pólo petroquímico em Itaboraí.

Esses investimentos devem crescer mais do que os números previstos pelo BNDES: a gigante americana Chevron, a quarta maior petrolífera do mundo, fixou como meta no Brasil uma produção própria de 110 mil barris diários em 2015, o que representa 4% da sua atual produção mundial.

Chevron tem plano ambicioso

A diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações Governamentais da Chevron, Patrícia Pradal, disse ao GLOBO que para atingir esse objetivo, a companhia vai investir US$3 bilhões no Brasil nos próximos anos. A executiva conta que, em 2001, quando houve a fusão da Chevron com a Texaco, a companhia passou por uma fase de reestruturação de seus negócios no Brasil. Em dezembro, anunciou um ambicioso plano para expandir suas atividades no país.

- A empresa tomou a decisão de voltar a investir no Brasil, e para atingir o objetivo temos que encontrar novas oportunidades - disse.

A Chevron já deu a largada para atingir sua meta, com o campo de Frade, na Bacia de Campos. No local, ela opera com 51,74% de participação, associada à Petrobras e à Frade Japão, um fundo de investidores. Estão sendo investidos no campo US$2,4 bilhões para produzir 100 mil barris diários a partir de 2009.

Os empresários e executivos do setor têm projeções de investimentos semelhantes às do BNDES, só que em um horizonte de cinco anos, de 2007 a 2011. Segundos dados do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP) e da Organização Nacional das Indústrias de Petróleo (Onip), nesse período, o volume pode chegar a aproximadamente US$100 bilhões (R$215 bilhões). Do total, US$25 bilhões (R$53,7 bilhões) serão investimentos feitos por empresas privadas.

O gerente de Economia e Política Energética do IBP, Felipe Dias, destacou que os investimentos que estão sendo feitos por empresas privadas já são bastante significativos. Eles são fruto das licitações de áreas feitas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) nos últimos oito anos. São 57 companhias que atuam no Brasil, incluindo a Petrobras, das quais 52 estão na fase de exploração e 17 em desenvolvimento. Algumas delas têm atividades concomitantes.

Apesar do crescimento dos investimentos privados, a Petrobras continua executando seu programa de investimentos pesados no setor, que chega a US$87,1 bilhões de 2007 a 2011. Para manter a auto-suficiência na produção, atingida no ano passado, e elevar a produção para 2,3 milhões de barris diários em 2011, a estatal pretende adquirir um número cada vez maior de novas áreas nas próximas licitações.

Indústria nacional pode ser beneficiada

Os técnicos Bruno Musso e Alfredo Renault, ambos da Onip, destacam que a tendência é de, nos próximos anos, o volume de investimentos feitos por outras empresas (fora a Petrobras) aumentar. Isso porque o total hoje estimado refere-se aos blocos adquiridos pelas empresas ainda em 1999 e 2000, nas licitações da ANP ou em parceria com a Petrobras. Renault ressalta que essa explosão de investimentos deve beneficiar a indústria nacional de equipamentos:

- O índice de nacionalização no setor é da ordem de 65%. As empresas brasileiras têm que se capacitar cada vez mais para elevar esse índice - disse.

Na Bacia de Campos, a Devon, companhia de energia americana, é dona do campo de Polvo, o primeiro descoberto por uma empresa estrangeira a entrar em produção no Brasil. O presidente da Devon no país, Murilo Marroquim, explicou que o bloco foi obtido na segunda licitação da ANP em 2000. Em 2004, a empresa descobriu o campo.

- No mês passado, começamos a instalar a plataforma que vai perfurar os poços e produzir 50 mil barris por dia a partir do próximo ano. O Brasil é uma das áreas prioritárias da Devon para investir fora dos Estados Unidos - destacou Marroquim.

Os executivos alertam, contudo, que o Brasil corre o risco de interromper o ciclo de crescimento dos investimentos, caso a ANP não ofereça novas áreas. Os executivos não esconderam sua frustração com a suspensão da 8ª Rodada de Licitações da ANP, em novembro último, por causa de liminares na Justiça.

O vice-presidente de Exploração e Produção da Shell Brasil, John Haney, destacou que neste momento a companhia está trabalhando nos seus dois projetos mais importantes: o desenvolvimento para produção no bloco BC-10, em Campos, e no BS-4, na Bacia de Santos. A Shell anunciou no fim do mês passado que áreas importantes do BS-4 são comerciais, ou seja, vão desenvolver sua produção. O mais importante é que, apesar de ser na Bacia de Santos, a área está localizada em frente ao litoral do Rio.

O executivo da Shell disse que a companhia continua interessada em ampliar seus investimentos no Brasil. Mas essa decisão depende também da continuidade das ofertas de novas áreas pela agência.

- Existe o risco de se cortar o ciclo do crescimento de investimentos. Isso vai depender da próxima licitação - disse Haney.

A ANP não quis se pronunciar sobre o assunto.