Título: Bombeiros retomam buscas em cratera de SP
Autor: Galhardo, Ricardo e Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 14/01/2007, O País, p. 13

Laudo sobre as causas do desmoronamento nas obras do metrô deve sair na terça-feira. Parentes fazem vigília

SÃO PAULO. As equipes de resgate retomaram ontem cedo os trabalhos de busca por possíveis vítimas no acidente que abriu uma cratera com 100 metros de diâmetro e quase 35 metros de profundidade (o equivalente a um prédio de dez andares) no canteiro de obras da linha 4 do Metrô de São Paulo. Caminhões e escavadeiras foram levados ao local para remover o entulho. Um guindaste com 50 toneladas, que ameaçava cair sobre casas da região, ganhou contra-pesos em sua base. A idéia era usar ainda cabos de aço para sua estabilização. Funcionários do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil e do Metrô também usaram lonas de plásticos para tentar evitar novas movimentações de solo. O receio das equipes de resgate era a repetição das fortes chuvas dos últimos dias na cidade.

A expectativa é que um laudo preliminar sobre as causas do desmoronamento seja concluído até a próxima terça-feira. Especialistas afirmam que a área onde ocorreu o desabamento é de transição de solo, com mais riscos de problemas em obras.

As informações continuavam desencontradas. Na sexta à noite, seriam pelo menos seis os desaparecidos no desmoronamento ¿ funcionários e passageiros de uma van que passava ou estaria estacionada na Rua Capri, junto à cratera. Ontem, o tenente Guido, chefe de operações dos bombeiros no local, falava em ¿3 a 6 pessoas¿:

¿ Trabalhamos com a hipótese que foi passada, mas não sei precisar o número exato.

Oficialmente, estão desaparecidos o motorista e o cobrador da van ¿ Reinaldo Aparecido Leite, de 44 anos, e Wesley Adriano da Silva, de 22. Mas relatos de testemunhas e o registro feito pela empresa proprietária da van dão conta de que o veículo estaria transportando pelo menos mais dois passageiros. Ontem também surgiu a informação do desaparecimento de um funcionário do Metrô. Francisco Sabino Torres, de 47 anos, era motorista de caminhão e trabalhava há um ano e quatro meses na estatal.

Motorista pediu socorro três vezes pelo rádio

Familiares dos desaparecidos passaram a noite no local. Marli Aparecida Leite, irmã do motorista da van, disse que logo depois do desmoronamento Reinaldo ligou pelo Nextel e pediu ajuda. Ele repetiu três vezes a palavra ¿socorro¿ e, depois, a ligação sumiu. O veículo estaria soterrado 20 metros abaixo do chão, de acordo com informação registrada pelo aparelho de localização por satélite (GPS) instalado na van.

Quem também fez vigília no local foi Maria Torres, mulher do funcionário do Metrô dado como desaparecido. Desesperada, ela contou que ontem foi o aniversário da filha mais velha do casal, que completou 19 anos. Segundo informações de funcionários da obra, Francisco Sabino teria voltado ao caminhão para recolher seus documentos depois que o chão começou a ceder.

O desmoronamento na obra da linha 4 do Metrô ocorreu por volta das 15h de sexta-feira, junto à marginal Pinheiros, uma das vias mais movimentadas da cidade. O trânsito na região ficará bloqueado pelo menos até a noite de amanhã, quando haverá nova avaliação por parte dos técnicos. O secretário-adjunto das subprefeituras da Prefeitura de São Paulo, Ricardo Teixeira, visitou o local ontem cedo e afirmou que o acidente provocou a interdição de 70 residências. O número de famílias atingidas chega a 79, que foram abrigadas em hotéis da região de Pinheiros (Zona Oeste de São Paulo).

Durante a madrugada, familiares dos desaparecidos disseram ter ouvido o som de uma buzina, possivelmente vindo da van. Seria um possível sinal de alerta e de sobreviventes.