Título: Disputa na Câmara eleva preço do apoio
Autor: Gripp, Alan e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 21/01/2007, O País, p. 3

Aliados reivindicam cotas maiores de cargos em troca do voto no candidato petista

BRASÍLIA. O acirramento da disputa pela presidência da Câmara pôs os cargos do governo federal na mesa de negociação. Para receber a adesão de PTB, PP e PR, protagonistas do escândalo do mensalão, o candidato do PT, Arlindo Chinaglia, foi avisado de que o apoio não sairia de graça. Ouviu diversos pedidos de indicações. As legendas querem aumentar suas cotas no Ministério e reivindicaram, principalmente, cargos importantes de segundo e terceiro escalões. Em jogo, na montagem do segundo governo Lula, estão cinco mil vagas preenchidas por indicação.

O preço para caminhar de mãos dadas com o petista subiu na última terça-feira, quando o tucano Gustavo Fruet (PR) foi lançado como candidato da terceira via e aumentaram as chances de segundo turno. Com dois concorrentes governistas, Chinaglia e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que disputa a reeleição, o fantasma de Severino Cavalcanti, que, em 2005, se elegeu presidente da Casa aproveitando-se da divisão da base, fez o Planalto jogar alto.

Fontes do governo contaram que Chinaglia, preocupado com o segundo turno, aumentou promessas aos aliados, mesmo sem respaldo de Lula. O PR, formado pela fusão de PL e Prona, exige manter o Ministério dos Transportes ¿ que tem o maior orçamento de investimentos de 2007 e é pretendido pelo PMDB ¿ e controlar os cargos da pasta nos estados, como os 27 escritórios do Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes).

O líder do PR, deputado Luciano Castro (RR), jura que não tratou de cargos com Chinaglia e com Lula e disse que o partido espera ser lembrado com carinho na hora da partilha:

¿ Somos da base, sempre fomos aliados fiéis, é só olhar as votações ¿ diz ele. ¿ Nas vezes em que estive com o presidente, ele nunca falou em cargos. No máximo, disse que é preciso ter cuidado para depois não ter um Severino de novo.

O líder do PP na Câmara, deputado Mário Negromonte (BA), vai direto ao assunto e diz que o partido quer o espaço perdido.

¿ Temos o Ministério das Cidades e queremos mais um. Vamos tentar recuperar cargos que perdemos, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) e a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde ¿ enumera Mário Negromonte.

Acomodar todo mundo não será fácil. A maior pressão partirá do PMDB, o maior partido aliado. Nos primeiros quatro anos de Lula, o partido teve cerca de 20% dos cargos federais e agora que é aliado formal quer mais. O PT ocupou 65% dos postos. Por isso, a palavra de ordem dos aliados nos últimos meses será ¿despetização¿.