Título: CNT/Sensus traz Lula 17 pontos à frente
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: O Globo, 12/04/2006, Política, p. A14

O episódio da violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa provocou queda nas intenções de voto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro, mas ainda não ameaça seu projeto de reeleição, segundo pesquisa CNT (Confederação Nacional do Transporte)/Sensus divulgada ontem. O fato, que provocou a demissão do ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda) e assombra o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), é conhecido de 60% dos dois mil entrevistados. Mesmo assim, Lula continua liderando a corrida presidencial, em qualquer cenário pesquisado.

Realizada entre os dias 3 e 6 de abril, a pesquisa mostra que Lula cai mas segue na liderança, o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, cresce timidamente e tem rejeição reduzida, o pemedebista Anthony Garotinho se mantém estável mas, pelo alto índice de rejeição (50,7%), não mostra viabilidade eleitoral. Na avaliação do pesquisador Ricardo Guedes, do Sensus, não há espaço para o surgimento de uma terceira via, por falta de tempo e de opções.

Ao contrário das pesquisas Datafolha e Ibope, o Sensus não fez pesquisa em março, mês em que os demais institutos registraram o estreitamento da diferença entre o presidente e o tucano. Os números do Sensus, em abril, confirmam a tendência verificada pelos demais institutos no mês passado.

De acordo com Guedes, o crescimento mostrado por Garotinho em algumas pesquisas mostra que uma parcela do eleitorado está insatisfeita com a polarização entre PT e PSDB, mas isso não é suficiente para torná-lo uma terceira via.

"Tradicionalmente, quem tem até 35% de rejeição no início da campanha está dentro do jogo. Quem tem 40% ou mais não emplaca o segundo turno", disse Guedes. Na pesquisa anterior, a rejeição de Garotinho era maior (59,1%), mas a queda não é considerada substancial.

A menor rejeição é de Alckmin (caiu de 39,9% para 33,5%), que continua desconhecido de 13,7% dos pesquisados. Guedes avalia que Alckmin ainda não é um candidato nacionalizado, e que seu desafio é transpor para o plano nacional sua popularidade em São Paulo - cerca de 65% de aprovação em pesquisas de outros institutos

Para o pesquisador, o sucesso ou não da transferência da popularidade paulista de Alckmin para os outros estados é uma das três variáveis que podem definir a eleição presidencial neste ano. As outras são: o desempenho da economia - que dá um patamar de 30% ao presidente e não sofre ameaças de conturbação nacional ou internacional - e a comparação entre a popularidade de Lula e a do governo Fernando Henrique Cardoso em seu final, que chegou a 25% de avaliação positiva e a 35% de negativa.

Num eventual segundo turno entre Lula e o tucano, o petista ganha com 45% contra 33,2% do tucano, mas a diferença entre eles cai de 21,6 pontos para 11,8 pontos em relação à pesquisa anterior, feita em fevereiro deste ano, quando Lula tinha 51,3% e Alckmin, 29,7%.

Segundo Guedes, a pesquisa mostra que, por enquanto, a população está satisfeita com a política econômica, mas está atenta à crise política. Pelos resultados aferidos em abril, ele acredita que o desempenho da economia ainda está pesando mais na decisão do eleitor. "As pessoas têm o objetivo de viver bem e, na medida em que ocorre uma relativa distribuição de renda nas camadas mais pobres e uma força da moeda, isso se consubstancia numa aprovação e em intenção de voto", disse. Prova dessa percepção da população é que a avaliação positiva do governo e a aprovação do desempenho pessoal do presidente se mantiveram estáveis.

Na pesquisa sobre o primeiro turno, com lista de candidatos induzida, Lula cai (de 42,2% em fevereiro para 37,5% em abril), Alckmin tem um crescimento tímido (17,4% para 20,6%) e Garotinho fica praticamente estável (14,4% para 15%). Heloísa Helena cai de 5,1% para 4,3%.

A rejeição de Lula se mantém estável (de 35,8% em fevereiro para 35,7% em abril), patamar considerado "palatável", segundo Guedes. A rejeição de Alckmin caiu bastante, de 39,9% para 33,5%. "Com esse índice, ele entra no jogo", analisa o pesquisador.