Título: Dólar encosta em R$2,085 e BC intervém
Autor: Eloy, Patricia e Beck, Martha
Fonte: O Globo, 03/02/2007, Economia, p. 36

Moeda atingiu menor nível em 9 meses. Risco-Brasil crava novo recorde: 181 pontos centesimais

Patricia Eloy e Martha Beck*

RIO, BRASÍLIA, WASHINGTON e NOVA YORK. O dólar chegou a ser negociado ontem a R$2,085, o menor valor desde os R$2,061 registrados no dia 10 de maio do ano passado. No entanto, uma atuação mais incisiva do Banco Central (BC) no mercado de câmbio conseguiu reverter a trajetória de queda, e a moeda americana acabou subindo 0,19%, encerrando os negócios a R$2,105.

Para alguns analistas, diante da forte queda nas cotações e dos riscos para a pauta de exportações, o BC poderia aumentar a carga no câmbio, intensificando o volume de compra de dólares para tentar reduzir o ritmo de desvalorização. A equipe econômica reconhece que o patamar no qual a moeda americana foi negociada esta semana é ruim para diversos segmentos do setor produtivo, por retirar competividade das exportações e promover concorrência dura com bens importados.

No entanto, o entendimento é que a valorização do real é hoje inevitável, uma vez que está descartada qualquer solução artificial ou intervenção na política cambial.

Na avaliação de fontes do Ministério da Fazenda, o enfraquecimento do dólar deve-se à forte e constante queda do risco-país. Isso torna o Brasil mais atraente aos capitais internacionais. Quanto maior a enxurrada de dólares, mais a moeda perde valor. Apenas quando o risco se estabilizar a situação tenderá a melhorar, avalia um integrante da equipe econômica. Até lá, a única ação do governo será continuar com as compras do BC no mercado, que engordam as reservas internacionais.

¿ Enquanto o risco-país estiver em queda forte, vai ser difícil segurar o câmbio ¿ reconheceu uma fonte.

Nos últimos dias, o forte recuo é efeito colateral de indicadores mais positivos da economia americana, que indicam que os juros naquele país devem ficar estáveis nos próximos meses. O mercado temia, há algumas semanas, uma elevação das taxas devido ao risco de pressão inflacionária. Com juros em níveis ainda baixos, cresce a atratividade da aplicação em mercados emergentes, mais arriscada e, por isso, mais rentável aos investidores internacionais. Daí o otimismo no Brasil.

Bolsa se aproxima de recorde histórico

Ontem, por exemplo, o risco-Brasil, termômetro da confiança dos investidores estrangeiros no país, atingiu novo piso histórico: 181 pontos centesimais, em queda de 0,55%. No ano, o recuo já chega a 6,22%.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou ontem aos 45.203 pontos, próximo ao recorde de 45.382 pontos, o que levou investidores a colocarem parte do lucro no bolso, vendendo ações. Após subir quase 1%, a Bolsa acabou fechando em alta de apenas 0,41%.

O dólar foi negociado abaixo dos R$2,10 durante o dia, e o Banco Central reagiu de imediato. Comprou moeda de 12 instituições, bem acima das cerca de três ou quatro das últimas semanas. Segundo operadores, quase dobrou o volume de compra de moeda, que estava em cerca de US$350 milhões diários. Com isso, o dólar encerrou os negócios em alta.

Para Rodrigo Trotta, operador de câmbio do Banif Primus, sem as compras do BC o dólar deve testar cotações ainda mais baixas. Já Vanderlei Arruda, analista-sênior de câmbio da corretora Souza Barros, avalia que a forte queda é momentânea e que o dólar deve se estabilizar em torno de R$2,10.

Ontem, investidores ficaram otimistas com o crescimento da confiança do consumidor americano, que atingiu, em janeiro, o maior nível em dois anos: 96,9. O Departamento de Trabalho revisou para cima o número de empregos criados no último trimestre de 2006, o que mostra o vigor da economia.

(*) Com agências internacionais