Título: Dólar sobe com rumor sobre Meirelles e ação do BC
Autor: Eloy, Patricia
Fonte: O Globo, 08/02/2007, Economia, p. 23

Moeda americana avança 0,34%, mas fica abaixo de R$2,10, Bolsa cai 1,68% e Risco-Brasil tem alta de 2,22%

Patricia Eloy

RIO e BRASÍLIA. Rumores sobre a saída de Henrique Meirelles da presidência do Banco Central (BC) e uma atuação mais incisiva da autoridade monetária no mercado de câmbio pressionaram a cotação da moeda americana, que fechou em alta após duas quedas consecutivas. O dólar subiu 0,34%, encerrando os negócios a R$2,093. A boataria em torno da demissão de Meirelles ¿ negada, no fim da tarde, próximo ao fechamento dos mercados, pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega ¿ levou incertezas e cautela também à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Um dia após encostar em novo recorde histórico em pontos, a Bovespa encerrou o pregão em queda de 1,68%. Já o risco-Brasil subiu 2,22% ontem, para 184 pontos centesimais.

Apesar da avaliação de economistas e especialistas em câmbio de que, a médio prazo, as compras de dólares além de ineficazes são fiscalmente onerosas ao governo, o BC repetiu ontem a atuação da última quinta-feira. A exemplo da semana passada, aceitou 12 propostas no leilão diário ¿ bem mais que as cerca de três ou quatro usuais ¿ e, segundo operadores, teria comprado pouco mais de US$500 milhões no mercado à vista. Nos últimos dias, as compras ficaram, em média, em US$300 milhões.

O dia mais fraco de negócios ¿ o volume financeiro ficou em torno de US$2 bilhões, bem abaixo do registrado na véspera, de mais de US$3 bilhões ¿ ajudou a potencializar a intervenção do BC, que mudou a trajetória de queda da moeda até o início da tarde de ontem.

Apenas em janeiro, compras de mais de US$5 bilhões

Apenas em janeiro, os leilões teriam movimentado US$5,4 bilhões, bem acima dos cerca de US$4 bilhões registrados em janeiro, de acordo com estimativas de Alexandre Schwartsman, ex-diretor da Área Internacional do BC e atual economista-chefe para a América Latina do ABN Amro Real.

E em fevereiro, o BC teria acelerado o ritmo: só nos quatro primeiros dias úteis, as reservas internacionais subiram quase US$1,8 bilhão, indicando mais apetite do BC ¿ parte dos recursos que entram nas reservas internacionais vêm dos dólares comprados no mercado.

¿ Há a expectativa de que o BC vá agir mais daqui para a frente ¿ disse a diretora de câmbio da AGK Corretora, Miriam Tavares.

Marcelo Salomon, economista-chefe de Pesquisa Macroeconômica do Unibanco, avalia que, diante do elevado apetite de risco dos investidores internacionais, o fluxo de dólares deve continuar forte, empurrando as cotações da moeda para baixo, apesar das atuações do BC. Ele descarta a possibilidade de que tenha havido algum exagero na queda recente do dólar:

¿ Exagero não é uma palavra que se aplica ao momento atual. Há fundamentos para a valorização do real e a moeda deve continuar caindo. Estimamos a moeda a R$2,20 no fim do ano, mas esse número pode ser revisado já que, se há algum risco hoje, é de queda do dólar. Difícil é precisar até que nível de preços.

COLABOROU Patrícia Duarte