Título: Partidos políticos vivem crise de identidade
Autor: Lima, Maria e Vasconcelos
Fonte: O Globo, 18/02/2007, O País, p. 5

PSDB tenta recuperar apoio da sociedade; PFL e PL mudam de nome, e PMDB e PT vivem dilemas da luta interna

Maria Lima e Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. PSDB e PFL estão no divã em busca de um novo rumo e da renovação do discurso. Tudo que possa reaproximá-los da sociedade e dos votos. O PMDB, que ao longo das últimas décadas viveu uma luta interna fratricida, parecia reunificado em torno do governo Lula, mas novas fissuras entre deputados e senadores na disputa por cargos no governo e pelo comando da legenda surgem como ameaça. O PT não está em crise, mas também não se livra de suas disputas internas.

A crise de identidade que atormenta os grandes Partidos atinge também os médios e pequenos. O PDT, por exemplo, esforçou-se para se manter na oposição no primeiro governo Lula, como fez com os governos anteriores, mas agora aderiu com força à base governista. O ex-PL foi mais rápido na busca de uma nova identidade e desde o início do ano se chama PR: Partido da República.

O problema maior de identidade parece ser do PSDB que, derrotado pelo PT na eleição presidencial, ajudou a eleger o petista Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara, provocando reações iradas de tucanos ilustres. Na última reunião da executiva nacional do PSDB, semana passada, foram criados três grupos de trabalho que deverão avaliar, com base em pesquisas encomendadas ao marqueteiro Antonio Lavareda, três aspectos: a imagem do partido junto à sociedade; que rumos a legenda deve tomar até 2010; e que rearranjo deve ser feito das forças estaduais.

O deputado José Aníbal (PSDB-SP) foi destacado, com a senadora Marisa Serrano (PSDB-MT), para organizar o congresso nacional do partido, no segundo semestre, pouco antes da convenção nacional de novembro, que deverá eleger o sucessor de Tasso Jereissati (CE) na presidência. Ele admite a crise:

- Vivemos, sim, uma crise de identidade. A oposição e o governo Lula vivem do improviso. Por isso mesmo, o PSDB tem de buscar um rumo bem definido para tentar agregar novamente a sociedade às suas lutas - diz Aníbal.

PFL, ex-Arena e ex-PDS, deve trocar de nome de novo

O deputado Gustavo Fruet (PR), um dos coordenadores do grupo, também admite que é crítica a imagem do PSDB:

- Queremos identificar as novas demandas da sociedade. Não vamos poder ficar na inércia esperando 2010. Temos de buscar nossa identidade, temos um patrimônio que são os 40 milhões de votos.

O Partido da Frente Liberal (PFL) - ex-Arena e ex-PDS - já chegou ao ponto de recorrer mais uma vez à troca de nome e logo deve virar PD (Partido Democrata). Seus líderes dizem que o partido encerra um novo ciclo, no qual ganhou o carimbo, de forma negativa, de liberal. Na rearrumação programática, volta o olhar para o social e, agora, temas como educação e emprego vêm na frente de mercado, impostos, investimentos ou juros.

- Estamos no fim de um ciclo. Neste início de novo mandato do Lula, os Partidos de oposição estão no ponto zero e precisam se readequar à nova realidade, com uma nova agenda. Economia é um discurso para poucos. O partido entendeu que é preciso encerrar esse ciclo e se renovar, se oxigenar, trazer novos quadros para ter condições de disputar 2010 e 2014 - diz o líder no Senado, José Agripino Maia (RN).