Título: Unidos por Lula. Até quando?
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 21/02/2007, O Globo, p. 2

Passado o carnaval, o presidente Lula não tem mais desculpas para protelar a formação do Ministério. Seu desafio continua sendo o de acomodar satisfatoriamente todos os partidos aliados, assegurando, se possível, a unidade da coalizão na eleição de seu sucessor em 2010. É com essa preocupação que setores do PSB vão tentar convencê-lo da conveniência de chamar novamente para o governo o agora deputado Ciro Gomes.

Na eleição do presidente da Câmara surgiu uma trinca pela esquerda, com o PSB, o PCdoB e o PDT apoiando Aldo Rebelo, enquanto o PT colhia a vitória em aliança com o PMDB e outros partidos. Organizados em um bloco que aspira à permanência parlamentar e eleitoral - diferentemente dos outros, criados apenas para disputar os cargos na Mesa -, os três partidos de esquerda têm deixado claro que continuarão apoiando Lula, mas não têm compromisso com o PT: buscarão um caminho próprio em 2010. Nem é segredo que o nome que lançariam é o de Ciro Gomes.

Depois da disputa e da formação do bloco, ele vem apresentando um distanciamento do governo que preocupa o próprio PSB. Tendo prometido uma atuação discreta na Câmara, já se tornou um nome de referência na Casa, daqueles poucos que o plenário pára para ouvir, como ocorreu há dez dias, quando ele interpelou os ministros que foram dar explicações sobre o PAC. Não tem sido hostil ao governo, mas tem atuado com uma independência preocupante.

Aos próprios partidos do bloco não interessa acelerar a separação. Os três partidos vão participar do governo e acreditam que de seu êxito depende o futuro de qualquer candidatura do campo lulista, seja do PT ou de outro partido. Se o governo for um fracasso, os ganhos serão da oposição. Para manter Ciro nessa órbita, seus companheiros de partido acham que seu retorno ao Ministério é fundamental. Um dos que dirão isso a Lula, na conversa que terão amanhã, é o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos.

Mas Ciro já disse ao próprio Lula que não pretende ser ministro. Agora quer aprofundar a experiência parlamentar. Tem dito que está adorando ser deputado. Teve um mandato, mas isso foi antes de se tornar prefeito, governador e ministro.

Afora isso, Lula tem duas encrencas para resolver. Uma com o PT, a quem deu esperanças de que nomearia Marta Suplicy para Cidades. Agora está com dificuldades para voltar atrás. A solução será tirar a pasta do PP, oferecendo-lhe a Agricultura. Isso agrada à ala ruralista do partido, mas descontenta seu flanco mais urbano.

O outro problema é com o PMDB. Lula prometeu dois ministérios à bancada da Câmara, mas ela não aceita como sua a indicação de José Gomes Temporão para a Saúde. É Lula que deseja nomeá-lo. A seu pedido, o governador Sérgio Cabral bancou o apadrinhamento. Já tem gente no PMDB e no PT aliado aconselhando os peemedebistas da Câmara a não criarem caso. A trombada seria com Lula, e não com Cabral.