Título: Primeiro escalão já estaria definido
Autor: Camarotti, Gerson e Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 04/03/2007, O País, p. 3

BRASÍLIA. Depois de quatro meses em que deixou a reforma ministerial em banho-maria, o presidente Lula começou a emitir sinais de que a mudança no primeiro escalão já está praticamente fechada e deve ser anunciada nos próximos dias. Mais por causa das pressões políticas que pelo receio de que a indefinição comprometa o andamento do governo. Lula repete, desde que foi reeleito, que o corpo técnico que está no Ministério é competente e vitorioso.

No Planalto, o presidente passou a ser alertado com mais freqüência, por aliados e amigos, que a reforma estava passando do tempo e poderia provocar prejuízos políticos difíceis de serem solucionados. Além do desgaste na imagem, cresce a sensação, dentro e fora do governo, de que há uma paralisia comprometedora no governo.

Lula rebate, sempre irritado com essas cobranças, e diz que os ministros técnicos do governo estão funcionando muito bem. Nesses quatros meses, em que adiou a reforma sucessivamente com desculpas diversas, ele repetiu algumas vezes que o ideal seria manter a equipe de técnicos. E ainda argumentava com os seus interlocutores que técnico não dá trabalho, cumpre ordens e não faz pressão política.

Contra as críticas dos que falam em paralisia, Lula exibiu semana passada um novo dado: o de que o nível de investimentos do governo federal nesses primeiros dois meses do ano é maior do que o do mesmo período dos quatro anos do primeiro mandato, tendo alcançado R$1,5 bilhão, mais de 25% mais que o liberado para o primeiro bimestre de 2006.

No atual Ministério há exemplos de ministros técnicos que estão realmente em plena atividade, sem prejuízo, pelo menos aparente, para a máquina. No Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, embora o ministro Luiz Fernando Furlan demonstre estar com um pé fora do governo há meses e tenha passado longos períodos de férias ou de licença, a burocracia vai andando, sem prejuízo aparente. Os trabalhos de acompanhamento das áreas de comércio exterior continuam, assim como as consultas bilaterais entre o Brasil e outros países. Mas agendas de trabalho no exterior a médio prazo, por exemplo, só podem ser confirmadas com a chegada do novo ministro.

Também com perfil técnico, mas respaldado pelo seu partido, o PP, o ministro das Cidades, Márcio Fortes, tem tentado acelerar os projetos da pasta, para já escolher que estados e municípios serão beneficiados com obras de habitação e saneamento: são R$2 bilhões (para construção de casas e infra-estrutura em favelas) a fundo perdido.

A lista de projetos escolhidos está sendo finalizada e deverá ser anunciada pelo presidente Lula, em cerimônia no Planalto. Por isso, Lula tem feito tanto esforço para barrar a indicação de Marta Suplicy para o Ministério das Cidades.

Nos últimos dias, no entanto, Lula disse que está prestes a anunciar as escolhas. Semana passada, confirmou antecipadamente para o governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) que o médico sanitarista José Gomes Temporão será mesmo o futuro ministro da Saúde. (Gerson Camarotti e Eliane Oliveira)