Título: Não gastamos muito tempo com Chávez
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 06/03/2007, O País, p. 8

Clifford Sobel diz que EUA priorizam sua relação com países amigos, como Brasil e Argentina.

Embaixador dos Estados Unidos diz que uma das prioridades de Bush é combater atividades ilícitas na região.

BRASÍLIA. O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Clifford Sobel, afirma que o presidente George W. Bush não perde tempo pensando no venezuelano Hugo Chávez. Diz, no entanto, que Bush vai se concentrar no avanço da democracia e na estabilidade política da região, no encontro que terá com seu colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, nesta sexta-feira, em São Paulo. Sobel - que está em Nova Jersey à espera do nascimento de seu primeiro neto - respondeu às perguntas do GLOBO por e-mail. Ele afirma que o objetivo de Bush com a visita é melhorar ainda mais as relações bilaterais. E que há muito tempo os EUA se preocupam com a tríplice fronteira.

Eliane Oliveira

O presidente Lula já disse que os EUA cometeram o erro de voltar as costas para a América Latina. O senhor concorda?

CLIFFORD SOBEL: O presidente Bush já fez 11 viagens às Américas, e os EUA e o Brasil têm relações excelentes. Temos uma agenda ativa focada em democracia, saúde, educação e oportunidades econômicas. O próprio presidente Lula disse que estamos vivendo o melhor momento no relacionamento Brasil-EUA em muitos anos. A questão não é bem sobre se as nossas relações são boas, mas como podemos fazer para melhorá-las ainda mais.

Os sinais sobre a visita de George W. Bush mostram que o etanol será o tema central do encontro com Lula. Há outros que podem ser destacados?

SOBEL: Os biocombustíveis naturalmente estarão na agenda, mas também estamos trabalhando com o Brasil em áreas como comércio e investimento, saúde e educação, cooperação hemisférica e estabilidade regional. A viagem do presidente Bush vai concentrar-se nos avanços da democracia, nas oportunidades econômicas, na justiça social, e, como todos almejamos, em proporcionar os benefícios da democracia para todos os nossos povos.

Os EUA sempre alertaram o governo brasileiro sobre a tríplice fronteira. Há algum pedido de Bush ao governo brasileiro?

SOBEL: Os EUA e os outros países da região há muito têm se preocupado com as atividades ilícitas na área da tríplice fronteira e com a possibilidade de que essa atividade possa gerar fundos para grupos terroristas. Nos últimos anos temos trabalhado com Brasil, Argentina e Paraguai para melhorar a coordenação, o compartilhamento de informações e as atividades conjuntas.

As ações do Brasil no combate ao terrorismo, ao narcotráfico e à lavagem de dinheiro são suficientes?

SOBEL: Os EUA e o Brasil, em parceria com nossos amigos, estão engajados na luta contra o terrorismo, e trabalhamos em estreita cooperação contra a lavagem de dinheiro, o crime organizado e o narcotráfico. Recentemente, o secretário de Justiça dos EUA (Alberto Gonzales) esteve no Brasil para expandir o bom relacionamento com autoridades municipais, estaduais e federais. Os presidentes vão se encontrar novamente este mês em Washington. É importante ressaltar que a reunião do dia 9 (em São Paulo) é um diálogo permanente, construído sobre nosso já bom relacionamento.

O cenário político na América Latina preocupa seu país? Como o governo dos EUA avalia os movimentos de nacionalização na região, com destaque para a Venezuela e o socialismo do século XXI, assim denominado por Hugo Chávez?

SOBEL: Estamos tentando buscar uma agenda positiva na América do Sul, e nosso foco é nos países que querem trabalhar conosco no Brasil, tais como Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Equador e as nações amigas. Nossa agenda é positiva e concentra-se em democracia, saúde, educação e oportunidade econômica. Infelizmente, a agenda com Chávez não é tão positiva -- e isso é uma opção dele. Não gastamos muito tempo pensando sobre Chávez.

O senhor acredita que Bush trará alguma mensagem positiva em relação a Doha?

SOBEL: O presidente Bush já declarou, desde o início, sua flexibilidade, e de fato ele disse que estamos prontos para eliminar tarifas, subsídios e outras barreiras ao livre fluxo de mercadorias e serviços se outras nações fizerem o mesmo.