Título: Em busca do clímax da relação com Bush
Autor: Guedes, Ciça e Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 10/03/2007, O País, p. 9

Lula diz estar de olho no "chamado Ponto G" nos acordos com os EUA.

Uma idéia fixa ronda a cabeça do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O assunto varia, mas o recurso metafórico ultimamente tem sido o mesmo: ele anexou às parábolas futebolísticas uma certa obsessão pela temática sexual. Ontem, em busca de uma equação comercialmente perfeita com o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, Lula fez, mais uma vez, a analogia. Desta vez, disse estar de olho no "chamado Ponto G" da relação em torno da Rodada de Doha. A busca pode ser em vão: não há comprovação científica sobre a existência do tal ponto erógeno - tanto no homem quanto na mulher.

Identificado pelo médico alemão Ernst Gräfenberg, o Ponto G é definido, por alguns cientistas, como uma concentração de terminações nervosas, que formariam uma zona erógena na vagina. No homem, ele se concentraria na próstata. Lula usou o Ponto G para resumir em que lugar quer chegar no acordo entre as nações em torno da Rodada de Doha:

- Nós já conversamos muito sobre a Rodada de Doha ao longo desses últimos meses, e já estamos andando com muita solidez para encontrar a possibilidade, com o chamado Ponto G, de fazer um acordo - disse Lula, que chegou a fazer um gesto com os dedos para mostrar um pontinho, diante de um ruborizado Bush.

Além da relação com Bush, o Rio também inspira o presidente brasileiro. Na última quarta-feira, quando passou o dia na cidade, entre visitas à Cidade do Samba, ao Maracanã e ao Palácio Laranjeiras, Lula fez uma defesa explícita da discussão aberta sobre o sexo e do uso da camisinha. Aproveitou para teorizar sobre os hábitos lúbricos do brasileiro:

- Sexo é uma coisa que quase todo mundo gosta, e é uma necessidade orgânica, da espécie humana e da espécie animal. Como nós não temos controle disso, o que precisamos é educar - defendeu um enfático presidente.

Para a terapeuta sexual Iracema Teixeira, Lula tem um estilo muitas vezes embaraçoso. E nem sempre perspicaz.

- Ele não foi muito feliz nessa declaração sobre o Ponto G, cuja comprovação científica sequer existe. Quando faz uma brincadeira desse tipo, me parece mais auto-afirmação, aquela coisa dos homens latinos de que, em relação a sexo, fazem e acontecem - disse Iracema.

O psicanalista Luís César Ebraico vê algum talento no presidente para produzir declarações de impacto. Para ele, o futebol brasileiro, recurso usado à exaustão quando o interlocutor entende do tema, foi deixado de lado - embora Lula tenha feito uma citação ao esporte - diante de um leigo Bush. O presidente partiu então, para um tema universal: o sexo.

- Como ainda se discute se o Ponto G existe ou não, fica muito parecido com o governo do Lula: a gente não sabe se o Fome Zero ainda existe, se o PAC vai existir... Só espero que esse coito Brasil-EUA seja fértil, e o filho não seja um monstro - disse.

A sexóloga Laura Muller viu humor na declaração mais recente do presidente. Para ela, Lula está em busca do clímax na relação com Bush:

- Sexo é sempre tão tabu que não devemos avaliar com olhar preconceituoso a forma tão divertida como o presidente trata do tema.

Quem não gostou das declarações de Lula em defesa da camisinha, feitas no Rio, foi a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que somente ontem respondeu. A Igreja disse não concordar com a forma como Lula abordou o uso de preservativos. "Não somos hipócritas. Nem o fomos. Nem o seremos. Somos coerentes", respondeu em nota a CNBB.