Título: Bola pra frente
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 14/03/2007, O Globo, p. 2

Na falta de definições na reforma ministerial, a reforma política voltou a entrar na agenda. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso saiu em defesa do voto distrital puro. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), participou de uma reunião para discutir o tema na OAB. Apesar da proliferação dos discursos e das iniciativas, ainda não há consenso sobre o que fazer.

É cada vez maior o número de líderes e dirigentes políticos descrentes com a aprovação de um projeto global que faça uma ampla reforma do sistema eleitoral e partidário. Nas conversas mais recentes sobre o assunto, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, tem sugerido aos petistas que, para que a reforma saia do papel, o mais adequado seria mudar de tática e aprovar mudanças tópicas, uma após a outra. O ministro, que será transferido para o Ministério da Justiça, tem dito que continuará coordenando a ação do governo na discussão da reforma política.

Os dirigentes dos quatro grandes partidos (PMDB, PT, PSDB e PFL) já chegaram à conclusão de que a reforma tem que ser fatiada. Ao adotar essa linha, fica prejudicado o relatório do deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO), considerado abrangente e polêmico demais. Neste momento, os quatro grandes querem aprovar propostas capazes de uni-los, como a partilha do tempo de televisão entre os partidos e a redistribuição dos recursos do Fundo Partidário. Outros itens que os grandes acreditam que conseguem aprovar com seus 288 votos são a fidelidade partidária (para impedir o troca-troca) e o fim das coligações nas eleições proporcionais (expediente usado por pequenos e médios partidos para eleger representantes).

Ainda não há consenso para a adoção de mudanças de maior profundidade. Propostas como o financiamento público das campanhas, a votação em listas fechadas de candidatos organizadas pelos partidos e o voto distrital, seja ele puro ou misto, não têm apoio político para serem aprovadas. Até mesmo porque algumas dessas inovações necessitam de quórum constitucional para serem aprovadas (308 votos na Câmara e 49 no Senado), para que não corram o risco de serem derrubadas no STF. Por isso, muitos parlamentares defendem que mudanças em temas mais complexos da reforma devem ser aprovadas para entrar em vigor daqui a dez anos, para as eleições de 2018.