Título: Collor se diz vítima de farsa e nem o PT rebate
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 16/03/2007, O País, p. 11

Em seu primeiro discurso, senador se compara a Dom Pedro I, Getúlio Vargas, Jânio Quadros e João Goulart .

BRASÍLIA. Quinze anos depois de ter cassado os direitos políticos do ex-presidente Fernando Collor, o Senado parou ontem para ouvir sua versão sobre o processo de impeachment ao qual foi submetido. Num discurso que durou mais de três horas e o levou às lágrimas, Collor, senador pelo PTB de Alagoas, colocou-se como vítima de uma farsa, recheada de abusos, preconceitos, violações de normas legais e afrontas ao estado de direito. Mesmo sem citar nomes, deixou claro que as mágoas maiores são em relação ao comportamento do ex-presidente da Câmara Ibsen Pinheiro e ao então relator da CPI do PC Farias, o ex-senador Amir Lando.

- Confrangido algumas vezes, contrafeito outras, mas calado sempre, assisti, ouvi, suportei acusações e incriminações dos que, movidos pelo rancor, aceitaram o papel que lhes foi destinado, na grande farsa que lhes coube protagonizar - iniciou Collor, diante de um plenário em silêncio.

Na platéia, antigos aliados, como o presidente do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson, um dos integrantes da tropa de choque do governo Collor, e o deputado Alceni Guerra (PFL-PR), seu ministro da Saúde. E algozes, como os senadores Garibaldi Alves (PMDB-RN), que votou a favor de sua cassação, e Aloizio Mercadante (PT-SP), um do/s mais atuantes da CPI do PC Farias. Ambos fizeram mea-culpa sobre alguns excessos cometidos no julgamento do ex-presidente. Mercadante disse que o ex-presidente pagou um preço muito alto, mas se justificou:

- Achava que estava contribuindo para a transparência, para a ética na política, para a mudança e o aperfeiçoamento das instituições democráticas do Brasil. Excessos ocorreram, mas não podemos olhar para a História sem considerar que os erros têm de ser identificados, apurados e punidos com rigor.

Comparando sua trajetória à abdicação imposta a dom Pedro I, ao suicídio cometido por Getúlio Vargas, à renúncia de Jânio Quadros e à deposição de João Goulart pelo regime militar, Collor reconheceu seus erros no relacionamento com o Congresso, mas lembrou que em momento algum impediu a instalação da CPI após publicadas as denúncias de seu irmão Pedro Collor.

- Sem entrar no mérito das acusações que lhe foram feitas na época, temos de reconhecer que vossa excelência não ofereceu resistências, que poderia ter oferecido, às investigações - disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).

Tasso: homem público que pagou preço mais alto

O presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), disse que Collor foi o homem público que pagou o preço mais alto por seus erros na história recente do país.

Collor lembrou seu esforço para garantir o apoio do PSDB ao seu governo. E lamentou que o acordo fechado com o então presidente da legenda Franco Montoro, pelo qual José Serra seria seu ministro da Fazenda, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, seu chanceler, tenha sido vetado.

- Talvez o destino do meu governo tivesse sido outro.

Antes de deixar a tribuna, Collor foi homenageado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que fez questão de presidir a sessão. Ele foi líder do governo Collor na Câmara.

- Suas palavras calam fundo o Senado. Vossa excelência está reescrevendo sua biografia. Depois da sua absolvição no Supremo e desse processo que o fez sofrer tanto, chega aqui com humildade. É forçoso reconhecer que vossa excelência é maior hoje do que foi um dia.