Título: Negócio de titãs
Autor: Oliveira, Germano e Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 19/03/2007, Economia, p. 15

Petrobras, Braskem e Ultra anunciam hoje a aquisição do conglomerado Ipiranga.

Será anunciado hoje, às 9h, num hotel em São Paulo, um dos maiores negócios do setor de energia dos últimos anos: a Petrobras, a Braskem e o Grupo Ultra informarão oficialmente a compra das empresas do conglomerado Ipiranga, que atua em petroquímica, distribuição de combustíveis e refino, além de ter participações em blocos de exploração e produção de petróleo. Em 2006, as empresas do grupo faturaram R$31,5 bilhões, uma alta de 12%. O lucro líquido foi de R$533,8 milhões. O acordo foi confirmado por fontes das empresas e estaria avaliado em torno de US$1,5 bilhão (R$3,15 bilhões). O anúncio da aquisição seria feito ontem, mas foi adiado porque alguns detalhes ainda estavam sendo fechados.

Segundo fontes que tiveram acesso às negociações, a divisão petroquímica ficaria com Braskem (60%) - controlada pela Odebrecht e pela Petroquisa, braço petroquímico da Petrobras - e com a Petrobras (40%). Já a Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga (CBPI), que faz distribuição e gerencia grande parte dos postos Ipiranga (são mais de três mil com a marca), seria vendida à Petrobras. A Distribuidora de Produtos de Petróleo Ipiranga (DPPI), responsável pelas fatias de mercado que envolvem o Rio Grande do Sul, além do Oeste e do litoral sul de Santa Catarina, iria para as mãos do Ultra. Das grandes distribuidoras de petróleo, o grupo Ipiranga é o último de capital privado brasileiro.

Há alguns anos, a Petrobras, associada à Repsol, tentou comprar a Ipiranga. As novas negociações vinham ocorrendo há meses, e a transação esteve para ser fechada várias vezes. Mas o negócio foi frustrado em função de desacordo entre os compradores sobre a distribuição dos ativos e entre os 60 acionistas da companhia - o grupo é controlada por cinco famílias: Gouvêa Vieira (do presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira), Tellechea, Ormazabaal, Matos e Aguiar. Os rumores sobre o desfecho chegaram ao mercado na sexta-feira, quando as ações da Ipiranga subiram, e, ontem, o jornal "O Estado de S. Paulo" informou sobre a operação.

Na sexta-feira, enquanto a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 1,27%, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da refinaria Ipiranga subiram 4,1%, num volume de negócios quatro vezes o giro médio nos 30 pregões anteriores. As ações PN da Ipiranga Petróleo subiram 2,72%. Com poucos negócios, os papéis ON da distribuidora subiram 33,33%.

Para Petrobras, uma "jóia da coroa"

O modelo final foi apresentado e aprovado apenas na sexta-feira, em reunião do Conselho de Administração da Petrobras. A Petrobras vê como "jóia da coroa" a área de distribuição. Atualmente, a BR tem cerca de 32% do mercado, atrás apenas dos postos de bandeira branca, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Com a compra da Ipiranga, que está em terceiro lugar, a estatal passaria a ter mais de 50% do segmento. Pelo balanço anual do grupo Ipiranga, a distribuidora tinha 19,6% do mercado no ano passado, com aumento de 2,6% no volume de vendas.

A Ipiranga Petroquímica, que alcançou seu recorde de produção no ano passado, de 638 mil toneladas, e de vendas, de 636 mil toneladas, teve um lucro líquido 17,5% maior em 2006, de R$321,8 milhões. Hoje, o grupo Ipiranga tem três empresas no setor de petroquímica: a Ipiranga Petroquímica (IPQ), que produz polietileno e polipropileno no Pólo Petroquímico de Triunfo (RS), a Empresa Carioca de Produtos Químicos (EMCA), do Pólo de Camaçari (BA), e a Ipiranga Química, que distribui produtos químicos e petroquímicos no mercado.

Já a refinaria, mesmo sem processar petróleo em função de sérias dificuldades financeiras, focou na produção de nafta petroquímica, registrando um lucro líquido de R$164 milhões.

(*) Do Globo Online

COLABORARAM Ana Cecília Santos e Maria Fernanda Delmas