Título: Parlamentar não entra em fila
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 25/03/2007, O País, p. 15

Congresso gasta R$1,1 milhão por ano com funcionários no aeroporto de Brasília.

Legenda da foto: JANETE PIETÁ é ajudada por funcionários da Câmara e da Gol.

BRASÍLIA. Um dos principais argumentos dos parlamentares para justificar o aumento de seus subsídios, pela correção inflacionária, é que este é um direito de todo trabalhador. Mas é o status de parlamentar que lhes garante carros com motorista, auxílio moradia ou apartamento funcional e dezenas de assessores - para atender os celulares, trazer café, fazer compras e até para fazer check-in no Aeroporto de Brasília. Parlamentar não fica em fila.

A mordomia chama atenção pelo custo: Câmara e Senado gastam juntos pelo menos R$1,1 milhão ao ano para evitar que os parlamentares peguem filas ou tenham que chegar uma hora antes dos vôos. O custo refere-se ao pagamento dos salários de 12 funcionários, que recebem entre R$6 mil e R$11 mil, e o custeio das salas de apoio das duas Casas no aeroporto de Brasília.

O levantamento do custo, feito em reportagem do site "Congresso em Foco", foi confirmado pela assessoria de imprensa da Câmara e pelo secretário-geral do Senado, Agaciel Maia. No aeroporto, seis funcionários efetivos do Senado revezam-se em dois turnos de trabalho, de 7h a 23h, de segunda a sexta-feira. Cinco recebem em média R$6 mil e o chefe, R$11 mil.

A Câmara também mantém seis funcionários no aeroporto de Brasília, mas são todos ocupantes de cargos de confiança. Trabalham em turnos, entre 8h e 21h. Cinco deles recebem R$6,6 mil e um, R$8,7 mil. O serviço existe há 18 anos.

A novata Janete Pietá (PT-SP) elogia o serviço. Desde fevereiro, quando engessou a perna, utiliza a mordomia para obter uma cadeira de rodas.

- Agora mesmo estou esperando o funcionário trazer a cadeira de rodas - disse Janete, antes de embarcar sexta-feira.

Agaciel Maia defende o serviço:

- Isso é dinâmica de trabalho, não mordomia. Qualquer autoridade ou homem de negócios tem isso. O cidadão comum não recebe 200 mil votos.