Título: Secretário: 'Quadro de vagas é deficitário'
Autor: Carvalho, Jaílton de
Fonte: O Globo, 26/03/2007, O País, p. 3

Luiz Fernando Corrêa, porém, elogia megaoperação das polícias civis

BRASÍLIA. O secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, considerou "meritória" a ação articulada das polícias civis, que, em operações simultâneas em 24 estados e no Distrito Federal, prendeu pelo menos 2.222 pessoas até a última sexta-feira. Corrêa admitiu que o sistema penitenciário opera no limite de sua capacidade, mas defendeu a integração da Justiça criminal desde a ação policial até a execução da pena, sem a interferência do governo federal.

- O quadro de vagas é realmente deficitário. O governo criou um sistema federal como um desafogo, e não para entrar na malha comum de vagas. Se qualquer um desses presos atender aos requisitos exigidos para ser deslocado para um presídio federal, tendo a solicitação do estado e uma avaliação da Justiça Federal, essas vagas federais estarão disponíveis para os estados - disse o secretário.

Segundo Corrêa, a integração da segurança não deve sofrer interferência do Ministério da Justiça, que serve como um órgão de articulação e cooperação.

- Na medida em que os entes federados operam sem essa interferência, é um sinal de que essa política está evoluindo. É isso que queremos, que se torne rotina, que não haja dependência permanente. A execução está dentro da autonomia dos estados e das suas instituições - disse Corrêa.

Mas a megaoperação das polícias foi criticada por outros especialistas. O coronel José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança, disse anteontem que a ação "está mais para marketing" do que para algo que dê resultados de longo prazo. Para ele, o impacto sobre a criminalidade é limitado:

- Esse tipo de ação contraria a lógica de trabalho de polícia. Você só vê resultado naquele dia. O que deve chamar a atenção é o trabalho resultante do uso da inteligência e da articulação das polícias.

O presidente da Federação dos Policiais Civis do Centro-Oeste e Norte, Divinato Ferreira, criticou duramente as operações. Segundo ele, a manobra faz parte de um conjunto de ações de delegados das polícias civis contrários ao projeto de lei orgânica das polícias em discussão na Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp). Os delegados estariam tentando demonstrar força e, com isso, aumentar o poder da categoria na mesa de negociações com o Ministério da Justiça.

- Os delegados estão fazendo essas operações não para combater a violência, mas para defender seus interesses. Por isso, somos contra - disse Ferreira.

O presidente do Conselho Nacional dos Chefes de Polícia, Mário Jordão Toledo, que comandou a megaoperação de sexta-feira, reúne-se amanhã, em Brasília, com o secretário Luiz Fernando Corrêa, para, entre outros temas, discutir parcerias mais efetivas com forças federais para outras operações. Jordão disse que a PF deve atuar com as polícias estaduais no combate ao crime organizado:

- Essa operação emblemática foi feita para mostrar que estamos mobilizando forças para enfrentar o crime. Mostramos que é possível trabalhar em conjunto e ampliar toda essa ação, incluindo nela a Polícia Federal, a Polícia Militar e outras unidades que combatem o crime organizado.