Título: Freira atribui cura repentina a João Paulo II
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Fonte: O Globo, 31/03/2007, O Mundo, p. 39

Peça-chave no processo de beatificação, religiosa francesa diz ter ficado livre do mal de Parkinson após rezar para Papa.

AIX-EN-PROVENCE, França. A freira Marie Simon-Pierre não quis falar em milagre, mas ontem, numa entrevista na cidade francesa de Aix-en-Provence, ela reafirmou que os sintomas de mal de Parkinson que sentia desapareceram após rezar para o Papa João Paulo II. A irmã Marie, de 46 anos, é peça-chave no processo que levará o falecido Pontífice à santidade, e na segunda-feira viaja a Roma para assistir à conclusão da segunda fase do processo de beatificação de João Paulo II, exatamente dois anos após a morte do Pontífice.

¿ Não posso dizer o que senti realmente. Foi muito forte, grande demais para explicar em palavras. Estava doente e me curei. Agora corresponde à Igreja decidir e reconhecer se se trata ou não de um milagre ¿ disse a religiosa francesa, que tivera a sua identidade revelada na véspera pelo jornal ¿Le Figaro¿.

¿Vi que minha mão deslizava sobre a folha de papel¿

A irmã Marie Simon-Pierre contou que por quatro anos sofreu de mal de Parkinson e que estava a ponto de abandonar o trabalho como supervisora num hospital na cidade. Mas dois meses após a morte do Papa, ocorrida em 2 de abril de 2005, os sintomas desapareceram. Este é o principal caso no processo de beatificação de Karol Wojtyla, o estágio anterior à canonização. Para a beatificação, a Igreja Católica exige provas de cura que a medicina não possa explicar.

Um pouco nervosa diante das câmeras de TV, a freira contou que o Papa polonês era uma fonte de inspiração, devido a seu sofrimento em público também pelo mal de Parkinson. O monsenhor Slawomir Oder, encarregado do relatório sobre João Paulo II, explicou que este caso foi escolhido entre as curas atribuídas ao Papa para demonstrar que ele sentia na própria pele ¿a batalha pela dignidade da vida¿.

¿ Minha cura foi obra de Deus através da intercessão de João Paulo II ¿ disse a religiosa.

Segundo o Vaticano, a irmã Marie Simon- Pierre estava cada dia mais debilitada pela doença quando o Papa faleceu.

Em junho de 2005, sua superiora pediu a ela que escrevesse num pedaço de papel o nome de João Paulo II. Ela o fez, mas o resultado ficou ilegível. Horas depois, quando a religiosa foi para o quarto dormir, sentiu vontade de tentar escrever de novo, e o resultado foi normal.

¿ Vi que minha mão deslizava sobre a folha de papel controlando a caneta, quando antes não conseguia escrever uma linha sequer ou pegar a caneta ¿ contou, acrescentando que ela e outras freiras haviam rezado, pedindo a ajuda do Papa.

Horas depois, a freira despertou no meio da noite e percebeu que não sentia mais dor alguma. No dia 7 de junho, parou de tomar os medicamentos, e seu neurologista constatou ¿com grande surpresa que todos os sinais do mal de Parkinson haviam desaparecido¿.

¿ Desde então, não sigo nenhum tratamento. Minha vida mudou totalmente. Foi como nascer de novo ¿ concluiu.

O mal de Parkinson é uma doença degenerativa, que provoca tremores, entre outros sintomas. A freira contou que seu neurologista ficou surpreso ao vê-la entrar andando normalmente no consultório cinco dias após a melhora.

O padre Luc-Marie Lalanne, que chefiou as investigações na Arquidiocese de Aix-en-Provence, disse que um psiquiatra e três neurologistas não conseguiram explicar a recuperação da freira.

Processo de canonização pode ser acelerado

Sua identidade foi mantida em segredo por dois anos, enquanto era investigado o caso. O processo de canonização, que sucede ao de beatificação, costuma durar anos, mas, neste caso, pode ser acelerado pelo Papa Bento XVI.

A freira disse que desejou se encontrar com a imprensa porque João Paulo II nunca evitou os jornalistas:

¿ Ele nunca se escondeu das câmeras. Ele me deu forças.