Título: Após ceder, Lula reprova ação de controladores
Autor: Camarotti, Gerson e Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 03/04/2007, Economia, p. 17

Governo cogita a possibilidade de contratar operadores de tráfego aéreo no exterior, em caso de emergência

BRASÍLIA. Depois de ter mandado os ministros negociarem com os controladores na noite de sexta-feira - desautorizando o Comando da Aeronáutica, desagradando as três Forças e abrindo uma crise institucional - o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou ontem o comportamento dos militares amotinados. Lula disse que a paralisação nos aeroportos foi grave e irresponsável. No programa semanal de rádio "Café com o presidente", Lula condenou a realização de greve em setores essenciais como o controle de vôos. O presidente cobrou publicamente, pela terceira vez, uma solução para os problemas aéreos no país.

- Eu acho muito grave o que aconteceu. Acho grave e uma irresponsabilidade de pessoas que têm funções consideradas essenciais e delicadas, porque estão lidando com milhares de passageiros que estão sobrevoando o território nacional - disse Lula.

Lula pode convocar o Conselho Político

Preocupado com a reação dos comandos militares sobre a decisão do governo de negociar com os controladores para pôr fim a greve que paralisou os aeroportos, o presidente Lula decidiu dar sinais claros de contrariedade e reprovação em relação aos grevistas. Essa posição ficou clara não só no programa de rádio semanal, que ele gravou na noite de domingo, mas também na reunião ministerial que ocorreu ontem pela manhã no Planalto. Nela, o presidente foi enfático.

Demonstrando indignação, Lula foi além e chegou a afirmar que, se for preciso, vai contratar controladores de tráfego aéreo, no exterior, de forma emergencial. Ele também cogitou convocar o Conselho Político para discutir o problema.

O presidente cobrou uma solução para os problemas aéreos que vêm sendo registrados no país desde o acidente com o avião da Gol, no dia 29 de setembro de 2006. Na sexta à noite, viajando para Washington, Lula falou por telefone com o vice, José Alencar, com os ministros Waldir Pires (Defesa) e Paulo Bernardo (Planejamento) e com o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito. Ontem Lula se reuniu pelo menos duas vezes com eles para tratar da crise aérea.

- Vou conversar com quem for necessário para que a gente encontre uma solução definitiva. Afinal de contas, homens e mulheres brasileiros precisam ter a tranqüilidade de viajar e a gente não pode ficar assistindo na televisão, todo dia, milhares de pessoas sofrendo, esperando cinco ou seis horas, passando privações, pessoas sofrendo, pessoas chorando porque uma categoria se dá o direito de poder fazer isso - disse Lula.

"Não estamos lidando com máquina apenas", diz Lula

Para Lula, os trabalhadores têm o direito de reivindicar aumento salarial, inclusive fazendo greve, mas devem preservar os serviços essenciais para não prejudicar o atendimento da população. Lula lembrou que, quando era sindicalista e fazia greve, havia um acordo com as empresas para manter os setores essenciais, "por uma questão de responsabilidade":

- Eu acho que todo trabalhador tem direito a aumento de salário, todo trabalhador tem direito de reivindicar. Nós não estamos lidando com máquinas apenas, estamos lidando com seres humanos. Se as pessoas querem discutir aumento de salário, vamos discutir, mas não vamos prejudicar o ser humano. Se quiserem prejudicar o governo, que prejudiquem, mas não prejudiquem a sociedade.

Mesmo condenando a atitude dos controladores, o presidente disse acreditar no diálogo como o melhor caminho para encontrar uma solução para a crise aérea:

- O diálogo sempre é a solução para todos os temas e para todas as crises existentes no mundo. Eu acredito nisso. Acho que vamos chegar a um denominador comum que possa garantir o bom funcionamento dos aeroportos brasileiros e, sobretudo, tranqüilidade às pessoas que saem de casa para viajar.

AVIÃO COM PIRES FOI O ÚLTIMO A DEIXAR BRASÍLIA, na página 20