Título: Avião com Pires foi o último a deixar Brasília
Autor: Camarotti, Gerson e Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 03/04/2007, Economia, p. 17

Tranqüilizado pelo Decea, ministro decidiu viajar ao Rio e não conseguiu voltar porque FAB não cedeu aeronave.

BRASÍLIA. O ministro da Defesa, Waldir Pires, foi informado pela Infraero às 6h da manhã da última sexta-feira de que o dia seria caótico nos aeroportos. Segundo relato de pessoas próximas ao ministro, ele foi acordado por um telefonema e avisado por representantes da estatal de que os controladores de vôo tinham feito paralisações na madrugada (Curitiba e Manaus), já com reflexos em atrasos de vôos em vários locais, e que havia fortes rumores de uma greve geral ao meio-dia.

Pires teria ficado preocupado. Mas, como havia recebido do diretor interino do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), brigadeiro Ramon Borges Cardoso, a informação de que não havia irregularidades no sistema de tráfego aéreo e uma greve não foi deflagrada no horário previsto, o ministro manteve o compromisso de viajar para o Rio para participar das bodas de ouro de um casal de amigos.

Pires afirmou não acreditar na radicalização

No fim da tarde, depois de ter dito não acreditar na possibilidade de radicalização do movimento (greve), numa entrevista concedida após reunir autoridades do setor para buscar uma solução para a crise, Pires foi para o aeroporto. Nesse momento (por volta das 17h), os controladores de Brasília deram início à operação-padrão, com controle de fluxo de aviões de dez minutos, e às 18h44m pararam o Cindacta-1.

Segundo informações da Infraero, o avião de carreira no qual o ministro embarcou foi o último a decolar. Depois, o aeroporto foi fechado. As companhias tiveram de evacuar passageiros embarcados em aeronaves à espera de autorização para decolar.

Para que Pires não fosse surpreendido ao desembarcar no Rio, um funcionário da Infraero avisou o ministro da gravidade da situação. Ele, no entanto, teria ido à festa. Lá, recebeu um telefonema da Infraero relatando a restrição a 80% do tráfego aéreo. Sua reação teria sido perguntar: "Mas como?".

No telefonema, Pires foi aconselhado a voltar imediatamente a Brasília. Ele pediu um avião do FAB, do Grupo de Transporte Especial (GTE), mas foi avisado de que não havia aeronave disponível. Teve de dormir no Rio e só voltou à capital federal na manhã de sábado, passando o fim de semana em reuniões. Seus auxiliares ficaram no ministério até domingo à noite, a fim de concluir o diagnóstico exigido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva há uma semana para pôr fim à crise aérea.