Título: Bernardo agora diz a controladores que haverá solução a médio prazo
Autor: Alvarez, Regina e Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 04/04/2007, Economia, p. 23

APAGÃO AÉREO: Profissionais garantem que não vão parar na Semana Santa.

Ministro, que negociara anistia, ontem afirmou que rebeldes podem ser presos.

BRASÍLIA. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, foi escalado pelo governo para, desta vez, mostrar a insatisfação com os controladores de vôo, além de dizer que não haverá negociação "com a faca no pescoço" e que as soluções virão, mas a médio prazo. Visivelmente irritado, após ter sido desautorizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro deu um recado duro - de que os militares podem ser presos, perder a carreira e ficar sem uma alternativa na área civil. Mas conseguiu a garantia dos oito representantes de controladores presentes que não haverá greve no feriado da Semana Santa.

- Vamos negociar, mas não podemos fazer isso com a corda no pescoço. Não vamos fazer negociação debaixo de ameaças, principalmente deixando passar para a sociedade uma idéia de intranqüilidade - afirmou o ministro.

A reunião começou tensa, com os controladores calados. Diante da aglomeração de fotógrafos e cinegrafistas, Bernardo pediu que todos saíssem:

- Vocês vão fazer aqui também uma rebelião?

A reunião durou cerca de uma hora, e foi interrompida porque Lula chamou Bernardo. O ministro expôs que a situação dos controladores é bastante ruim. Perguntado por jornalistas se o governo não garantiria mais a anistia, o ministro disse que nunca havia pronunciado "esta palavra" - apesar de a promessa de não haver punições constar da minuta de acordo assinada por ele:

- Não falamos nada de anistia, nem hoje nem sexta-feira. Só vejo isso nos jornais.

Bernardo também procurou mostrar que, na sexta-feira, fez o que fora orientado a fazer. Na reunião de ontem, o ministro afirmou que os controladores deveriam ficar calados. Segundo ele, o governo quer negociar, mas via Aeronáutica, para que as soluções tenham legitimidade. De acordo com assessores, o governo continua preparando a medida provisória (MP) que fará mudanças no setor. Na avaliação de um dirigente da categoria, é indiferente quem comandará as negociações, desde que "tenha orientação do Palácio do Planalto".

Os controladores disseram que não há intenção de fazer paralisação na Semana Santa, mas fugiram da imprensa. O presidente da Federação Brasileira dos Controladores do Tráfego Aéreo (Febracta), Carlos Trifílio, explicou que as sugestões continuam as mesmas, como a desmilitarização, e que há o risco de a situação piorar caso haja punições.

O sentimento generalizado dos controladores ontem era de medo, indignação e mágoa com Lula. Em Brasília (Cindacta 1), a palavra de ordem das chefias foi: "Se não trabalhar, será preso e sairá algemado", revelou um militar. Mas eles optaram pela resignação temporária, pois sabem que as conseqüências da expulsão são graves. A Polícia da Aeronáutica chegou a cercar as instalações de Brasília, permitindo só a entrada de pessoas a trabalho. O uso do celular foi proibido. O clima também é de insegurança e hostilidade em Recife, contou um sargento.

- O ambiente está horrível. Há uma angústia grande por parte dos colegas que sabem que vão sofrer o IPM (Inquérito Policial Militar). O governo tinha de ter tido, pelo menos, sensibilidade, e substituir a chefia do centro de controle. Já está havendo revanchismos - contou um militar de Brasília.

Ontem, o sistema funcionou normalmente, mas os controladores se queixam de pressão e ameaças constantes. Numa situação dessas, a segurança dos vôos pode ser afetada, teme um prossional.