Título: Ex-presidente da Infraero, Carlos Wilson é alvo da CPI do Apagão
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 08/04/2007, O País, p. 4

PERSONAGENS DA CRISE: "Se eu botar a cara agora, vou para o olho do furacão"

Hoje deputado pelo PT, ele vê petistas e amigos se afastarem após suspeitas

Maria Lima

BRASÍLIA. O sorriso largo, a fala mansa e o bom papo cativaram os maiores líderes políticos do país, da direita à esquerda, desde o general Figueiredo, passando por Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Jarbas Vasconcelos, Miguel Arraes e Fernando Henrique - e não foi diferente com Luiz Inácio Lula da Silva. Por onde passou, o ex-senador, ex-governador, ex-presidente da Infraero e hoje deputado federal pelo PT Carlos Wilson fez amigos. Até cair em desgraça e virar alvo, juntamente com o advogado Roberto Teixeira, da CPI do Apagão Aéreo, que está para ser instalada na Câmara.

Amigos se afastaram, companheiros do PT, Lula e a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, cobram-lhe explicações sobre as denúncias de irregularidades na Infraero. Na terça-feira, Carlos Wilson anunciou um pronunciamento no plenário para dar sua versão sobre o superfaturamento de R$16 milhões nas obras de reforma do aeroporto de Congonhas (SP). A denúncia foi investigada pelo Tribunal de Contas da União e levou o Ministério Público a pedir a quebra do sigilo bancário e fiscal do então presidente da Infraero e de outros diretores do órgão, ano passado.

Chinaglia convenceu Wilson a desistir de discurso

Carlos Wilson foi convencido pelo presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a desistir do pronunciamento, sob o argumento de que chamaria a atenção e mudaria o foco da CPI para a Infraero. Justamente o maior pavor do governo.

Na semana passada, Carlos Wilson se encontrou com Lula em Recife, num café da manhã, quando conversaram sobre as denúncias. Ele diz que tem atendido a todos os pedidos de informação de Lula, de Dilma e do PT. Amigo de Carlos Wilson, o deputado Raul Henry (PMDB-PE) diz:

- Ele está amargurado, desencantado, sentindo-se abandonado e sem a solidariedade dos antigos companheiros. Eu, como o (Fernando) Gabeira, defendemos que a CPI se concentre no caos aéreo e que a Infraero continue sendo investigada pelo Ministério Público.

- Não estou pedindo apoio a ninguém. Saí da Infraero há um ano e nenhuma obra foi embargada por irregularidade. Se não tivesse havido a reforma em Congonhas, tinha morrido muita gente lá, onde a situação era dramática. Com a CPI do Apagão, se criou esse clima nebuloso na Infraero, até então elogiada por sua eficiência - defende-se Carlos Wilson.

Líderes da oposição dizem que o medo de Lula não é a investigação do caos aéreo, mas que as denúncias envolvendo a Infraero respinguem em Roberto Teixeira - advogado de companhias aéreas - no PT e cheguem ao Planalto. Quando deixou o PTB e ingressou no PT, Carlos Wilson manteve-se à frente da Infraero. Com um orçamento milionário, comandaria a reforma de 62 aeroportos. Nesse período, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o deputado cassado José Dirceu se aproximaram dele.

- O que se sabe é que o Carlos Wilson ficou na Infraero por causa de sua amizade com Lula. Se vai respingar no Roberto Teixeira ou não, vamos ver. Não vamos investigar só os amigos do presidente, mas, se tiver de investigar, vamos investigar. Os medos do governo são justificados, porque eles já sabem o que há de errado e que vamos descobrir - diz o líder da Minoria, Júlio Redecker (PSDB-RS).

A amigos - alguns da oposição - Carlos Wilson tem dito que, se for falar publicamente sobre as denúncias contra a Infraero, terá de falar também sobre "contratos complicados" que encontrou do governo Fernando Henrique ao assumir. Mas, em público, diz que não vai falar sobre isso enquanto não se definir a questão da CPI.

- Encontrei. Mas não foi por isso que resolvi não falar. Se botar minha cara agora, vou para o olho do furacão. Já estou, mas me ferraria de vez. Não quero entrar agora para não mudar o foco da CPI. Apurar é legítimo. Procurei deputados para assinar a CPI, mas depois vi que a morte dos 159 passageiros da Gol era o que menos interessava - diz Carlos Wilson.

Chico confirma que Wilson disse que iria assinar a CPI

Ele acredita que ainda tem amigos no PSDB e que não está abandonado por Lula, mas não está buscando o apoio de ninguém. Está especialmente magoado com o amigo Otávio Leite (PSDB-RJ), um dos maiores defensores da CPI.

- O PFL é que está muito radicalizado. Entraram com uma representação contra a diretoria da Infraero nos últimos 4 anos, deveriam ter entrado contra a diretoria nos últimos dez anos.

O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), confirma que Carlos Wilson chegou a procurá-lo para dizer que queria assinar a CPI. Diz, porém, que as amizades não vão livrá-lo da investigação da CPI, se for o caso.

- Nem o conheço e ele fez questão de me procurar para dizer que era favorável á investigação e que iria assinar a CPI - conta Chico.

Carlos Wilson entrou na política nos anos 70, com o hoje senador Heráclito Fortes (DEM-PI) e o deputado Ciro Gomes (PSB-CE). Militavam na Arena Jovem e organizaram um encontro com o então presidente João Figueiredo. Justamente quando seu pai, o ex-senador Wilson Campos (Arena) foi cassado por corrupção pelo regime militar. Desde então, passou por vários partidos. Nos anos 80, filiou-se ao PMDB. Com o crescimento da influência de Miguel Arraes, foi vice da chapa do ex-governador, em 1986. Assumiu o governo em 1990. Foi quando se aproximou de Lula, que havia perdido a eleição, e foi recebido com honras em Pernambuco. Lula nunca esqueceu o gesto.

Sempre próximo do poder, o deputado já foi considerado o melhor amigo do senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA). Passou pelo PPS e pelo PTB. Em 2002, teve um problema familiar: perdeu a vaga de senador para o tucano Sérgio Guerra, casado com uma irmã de sua mulher.