Título: Novos males ainda convivem com velhos problemas no emprego
Autor: Almeida, Cássia e Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 08/04/2007, Economia, p. 30

Acidentes e envenenamentos são o que mais afasta o trabalhador.

BRASÍLIA e RIO. Além de conviver com mais doenças ocupacionais nos últimos cinco anos, o Brasil não conseguiu reduzir, no mesmo período, os acidentes decorrentes de formas antigas de produção, que utilizam máquinas pesadas e perigosas e provocam lesões, amputações e envenenamento. Os acidentes são mais freqüentes na indústria de preparo de especiarias, molhos, temperos e condimentos. Quem está nesse ramo corre risco três vezes maior de sofrer um acidente do que a média das atividades.

¿ No setor de alimentos e bebidas, o índice de acidentes é alto, assim como nos moinhos de farinha, açúcar, arroz. Há muito trabalho repetitivo também, com o ensacamento e o trabalho de embalar ¿ diz a especialista em saúde pública da Universidade Federal da Bahia Letícia Nobre.

Esse fenômeno também aparece no ramo de carga e descarga de caminhões e fabricação de vasilhames de vidros. Nas fábricas de esquadrias de madeira, de linhas e fios de costura e de beneficiamento de arroz, há duas vezes mais chances de o trabalhador se acidentar do que na média das indústrias.

¿ Temos um grande desafio pela frente. Não basta punir as empresas que menos se preocupam com a segurança dos seus empregados, mas criar incentivos para substituir as máquinas mais perigosas ¿ disse o secretário de Previdência Social, Helmut Schwarzer.

O metalúrgico Isaias Ferreira da Silva é um dos afastados por acidente de trabalho. Ao aplicar um jato de ar na ferramenta de corte de uma prensa, uma fagulha atingiu o olho direito. Perdeu a visão e está de licença médica há seis anos:

¿ Já fiz todos os exames, não há como recuperar a visão. Estou tentando uma atividade na qual eu possa me adaptar e voltar ao trabalho ¿ espera o metalúrgico aos 49 anos.

Recentemente, o governo alterou as alíquotas do seguro contra acidente de trabalho de acordo com o número de ocorrências em cada atividade da economia nos últimos cinco anos. Algumas atividades, como bancos, correios, frigoríficos, fabricação de açúcar, processamento de fumo e couro, tiveram o percentual elevado de 1% para 3% do valor da folha de pagamento. As doenças por esforço repetitivo e os transtornos mentais são os principais motivos para essa alteração.

Houve melhoria no cultivo de arroz e na pesca

O petroleiro licenciado Jorge Moraes sofre com tendinite no ombro direito e hérnia de disco. As dores e os espasmos musculares acabaram por deixá-lo com crises de depressão e ansiedade. Técnico de manutenção, teve a doença depois do afundamento da plataforma P-36, em 2001. Ele conta que o trabalho aumentou absurdamente. A folga de 14 dias que tinha por trabalhar na plataforma se reduziu para cinco apenas, por causa de tantas horas extras:

¿ Trabalhava com o braço na tipóia. Isso acabou comigo.

Mas, em outras atividades, houve melhora. Cultivo de arroz, pesca, padarias, comércio atacadista e fabricação de gases estão entre as áreas beneficiadas pela redução na alíquota do seguro.

Para o especialista em Medicina do Trabalho, Marcio Moreira Salles, para reduzir a incidência dos acidentes e as doenças profissionais, é preciso intensificar a fiscalização das empresas, além de exigir equipamentos de segurança. As firmas devem se preocupar com o mobiliário destinado aos funcionários. Além de ergonômicos, eles precisam se adequar aos diversos usuários (altos, magros, gordos).

¿ A maioria das firmas não está atenta a essas questões.