Título: Em Alagoas, 80 escolas fechadas e 50 mil alunos fora das salas de aula
Autor: Ferreira, Arnaldo e Ribeiro, Efrém
Fonte: O Globo, 15/04/2007, O País, p. 8

No sertão e no agreste, há falta de professores, funcionários e carteiras.

MACEIÓ e TERESINA. Para os professores da rede estadual de ensino de Alagoas - e para o próprio governador, Teotônio Vilela Filho - a educação pública do estado vive uma crise dramática. Segundo estimativa do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (Sinteal), das 435 escolas estaduais espalhadas pelos 102 municípios alagoanos, 80 estão fechadas, necessitando de reformas, deixando cerca de 50 mil dos 350 mil alunos da rede sem aula até agora. O sindicato também afirma que em torno de 120 mil alunos do ensino médio vão se formar sem que tenham estudado matemática, física, química e biologia, devido à falta de professores. O governador não nega nem confirma esses dados, mas diz que o problema é grave.

Os professores ficaram três meses em greve e voltaram ao trabalho no último dia 9. A maioria das escolas ainda não concluiu o período letivo de 2006.

- A educação de Alagoas vive uma situação dramática - admite Teotônio depois de analisar um relatório do Ministério Público. - Nós temos os mais altos índices de repetência e de evasão escolar do país e o mais baixo índice de aproveitamento escolar. Com o fim da greve dos professores, precisamos criar uma nova dinâmica e recuperar o ensino público do estado. A folha de pagamento do setor é feita à mão. Isso é coisa da década de 40 - diz o governador.

O tucano afirma que sabia das dificuldades estruturais do estado, mas não tinha idéia de que os problemas que herdou revelassem "uma crise tão profunda". Teotônio encaminhou um relatório ao Ministério da Educação pedindo socorro ao governo federal:

- Não temos dinheiro nem para as obras nas escolas.

A situação é mais grave no sertão e no agreste, onde, além de professores, faltam funcionários, carteiras e equipamentos para os laboratórios de informática. Algumas escolas estão fechadas há mais de seis meses esperando por reforma.

- Há três anos espero os professores de química e física. Vou fazer vestibular, mas não há previsão de quando a situação será normalizada - queixa-se José Cícero Santana de Jesus, líder do grêmio secundarista da Escola Estadual de São José da Tapera, a 260 quilômetros de Maceió.

- Fazemos protestos há dois anos para conseguir professores da área de exatas. A Secretaria de Educação promete resolver a situação, mas até agora nada. Aluno da rede estadual que mora no interior e não pode pagar cursinho não tem condições de passar no vestibular - afirma Verônica Adélia da Silva, aluna do 2º ano do ensimo médio da escola estadual de Delmiro Gouveia, a 220 quilômetros da capital. Ela diz que terá que repetir o curso:

- Preciso estudar física e química - frisa a estudante, cuja família é de pequenos agricultores. Ela gasta duas horas, num caminhão pau-de-arara, para chegar à escola.

- O ensino púbico de Alagoas precisa de recuperação para sair da UTI - diagnostica a sindicalista Girlene Lázaro da Silva, presidente do Sinteal.

"Os prejuízos pedagógicos são grandes"

No Piauí, a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do Piauí (Sinte), Odeni de Jesus da Silva, calcula que 20% das 800 escolas da rede pública estadual de ensino estão funcionando parcialmente por falta de professores, o que reduz a jornada de estudos dos alunos.

- Os prejuízos pedagógicos são grandes porque, sem o quadro completo de professores, os alunos não têm cumprido os 280 dias letivos - diz Odeni.

O secretário de Educação do Piauí, João Barros Sobrinho, afirma que o ano letivo começou em fevereiro e até agora não tem informações sobre falta de aulas nas escolas.

O problema existe em escolas de ensino fundamental do Centro de Educação Básica Governador Freitas Neto, da rede pública estadual, na periferia de Teresina. Na hora da aula, muitos estudantes costumam brincar em cima de uma árvore. Antônio Luciwagner, de 12 anos, é um deles. Aluno da quarta série, conta que a falta de professores faz com que volte mais cedo para casa. Ele diz que os professores faltam com freqüência e que as aulas terminam duas horas mais cedo:

- Minha mãe reclama quando eu chego mais cedo e pensa que não fui para a escola - conta ele.