Título: Ministro do STJ cita Deus e diz ser 'um homem rigorosamente de bem'
Autor: Gripp, Alan e Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 16/04/2007, Rio, p. 10
Nota não menciona o irmão, que teria negociado uma decisão judicial.
BRASÍLIA. Investigado por suspeita de envolvimento com integrantes da máfia dos bingos e dos jogos eletrônicos, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Paulo Medina defendeu-se ontem dizendo ser um homem de bem. Ele divulgou uma nota em que menciona Deus e sua conduta supostamente ilibada durante as quatro décadas de magistratura. Medina, assim como todos os outros magistrados apontados como integrantes do esquema, não é investigado apenas no inquérito criminal. Ele deverá ser alvo de apuração do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Se for condenado, poderá ser afastado do cargo.
Na nota divulgada ontem, o ministro evitou comentar as suspeitas de que teria beneficiado empresários de bingo ao liberar, por intermédio de uma liminar, 900 máquinas caça-níqueis apreendidas. Seu irmão, o advogado Virgilio Medina, foi preso e está sendo investigado pela ligação com a máfia. Numa escuta feita pela PF, Virgílio negocia com Sérgio Luzio de Araújo, também preso na Hurricane, uma decisão judicial por R$1 milhão. A decisão atenderia aos interesses de donos de bingos.
"Posso assegurar que os meus olhos se voltam para o alto com a certeza do meu encontro permanente com Deus. Sou um homem rigorosamente de bem, da prática do bem que realizo em minha vida", diz ele em um trecho da nota. O ministro também alega que sempre agiu com coragem e independência e que jamais teve sua honestidade questionada.
Advogada acusou ministro de assédio sexual
Na nota, de apenas três parágrafos, Medina não menciona a prisão de seu irmão, o advogado Virgílio. A interlocutores próximos, o ministro teria levantado a suspeita de que possa ter sido traído pelo irmão. Até agora, foram presos na Operação Hurricane os desembargadores José Eduardo Carreira Alvim e Ricardo Regueira, ambos do Tribunal Regional Federal (TRF) da 2ª Região, e o juiz do TRT de Campinas Ernesto Dória.
No CNJ, Medina estará nas mãos de um de seus colegas, o ministro do STJ Antonio de Pádua Ribeiro, que é corregedor do conselho e será o relator das apurações. Apesar de trabalharem no mesmo tribunal, os dois não são exatamente amigos. Recentemente, a filha de Pádua Ribeiro, a advogada Glória Portella, entrou com ação na Justiça contra Medina por assédio sexual. A prática teria ocorrido quando a advogada era assessora de Medina. O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal, que, em junho de 2004, o arquivou por falta de provas. Mas o episódio deixou a relação entre os dois ministros abalada.