Título: Mantega diz que o país não tem pressa para criar o Banco do Sul
Autor: Passoa, José Meirelles
Fonte: O Globo, 16/04/2007, Economia, p. 32

Para ministro, contribuições externas são bem-vindas, mas sem direito a voto.

WASHINGTON. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reiterou ontem que o Brasil não tem pressa para a criação do Banco do Sul. O mais importante, segundo ele, é investir o tempo que for necessário para montar uma entidade que tenha bom lastro e capacidade técnica e administrativa. E, além disso, que os países membros tenham o mesmo peso nas decisões.

Mantega disse, ainda, que se países de fora da região ou organismos multilaterais - como o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI) - desejarem investir no Banco do Sul, as portas estariam abertas, mas sem direito a voto:

- O banco precisa de boa capacidade de financiamento. Não vejo problema no aporte de recursos de outros organismos, desde que eles não tenham poder de decisão.

O ministro admitiu que haverá conflitos, referindo-se a decisões como o local da sede do Banco do Sul; sua participação acionária; se ele deve, ou não, estar ligado ao Mercosul (nesse caso os países interessados teriam de ser sócios também do Mercosul) ou se seria um banco de toda a América do Sul.

- São todos problemas cabeludos. Criar um banco já é complicado. Criar um banco multilateral é multilateralmente complicado - disse ele.

O Brasil, informou Mantega, preferia que o banco fosse ligado ao Mercosul. A discussão está aberta. Mesmo que essa proposta não prevaleça, o governo brasileiro apoiará o novo organismo se ele não tiver sócios majoritários com maior poder de decisão, como acontece no FMI, Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento - entidades em que os interesses dos Estados Unidos acabam prevalecendo.

- Finalmente teremos um banco onde o poder de decisão será nosso - afirmou ele.

Segundo Mantega, uma vez formalizada a entrada do Brasil e do Equador no grupo de discussão (em que já estão Venezuela, Argentina e Bolívia) - o que deverá acontecer entre hoje e amanhã - já começarão as discussões para definir estatutos, participação, local da sede, constituição acionária e formas de buscar dinheiro nos mercados.

- Não é uma tarefa fácil. Temos que ter paciência e começar devagar, com pouco recurso, até chegar aonde queremos - disse Mantega.

Países teriam o mesmo poder de voto

A tendência é de que haja um consenso sobre a formação do capital com participação idêntica de cada país, independentemente do tamanho das economias. Ou, então, criar uma fórmula que estabeleça aporte de dinheiro proporcional à economia dos interessados mas que, ao mesmo tempo, estipule equiparação no poder de voto. O ministro explica que, num sistema de cotas iguais, o Paraguai e o Equador destinariam o mesmo volume de recursos que o Brasil:

- Senão, a questão das cotas em discussão no FMI, sobre quem manda ou não, vai se repetir no Banco do Sul. Para que isso não ocorra, temos que estar em pé de igualdade.