Título: Bolívia pode suspender envio de gás ao Brasil
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 16/04/2007, Economia, p. 34

Trabalhadores ameaçam greve a qualquer momento. Argentina também deve ser afetada

LA PAZ. O fornecimento de gás natural ao Brasil está ameaçado por uma greve na maior região produtora da Bolívia, no Sul do país. Para chamar a atenção do governo e da prefeitura em relação a uma disputa local sobre um campo de gás, os trabalhadores podem suspender as atividades a qualquer momento e fechar as válvulas, afetando o fornecimento do combustível não apenas para o Brasil, mas também para a Argentina.

O protesto atinge as cidades de Yacuiba, Villamontes e Caraparí, na província de Gran Chaco, em Tarija, segundo o presidente do comitê cívico de Yacuiba, Gualberto Durán. Os trabalhadores exigem do governo uma solução definitiva para o conflito com a localidade vizinha de O"Connor pela jurisdição do rico campo de gás de Margarita, a instalação de uma unidade da estatal petrolífera YPFB na região e também medidas para estimular o comércio com o norte da Argentina.

Fronteira com Argentina pode ser fechada na quarta

As pressões terão início com a suspensão das atividades nos três municípios - que têm, juntos, mais de 160 mil habitantes. Os trabalhadores também se preparam para fechar a fronteira com a Argentina e bloquear as estradas até o Uruguai e o interior da Bolívia.

Na região, onde os comitês cívicos exercem grande influência, estão localizados os campos de produção de gás natural mais importantes da Bolívia: San Alberto e San Antonio. Ambos são operados pela Petrobras, com a hispano-argentina Repsol YPF e a franco-belga Total.

Se até a próxima quarta-feira o governo não apresentar uma solução satisfatória para os trabalhadores, os campos mais ricos serão ocupados no mesmo dia, para interromper a venda de gás para o Brasil e a Argentina. Nos últimos três dias, mais de 20 prefeitos e representantes da região iniciaram uma greve de fome, que também teve a adesão, em La Paz, do deputado de oposição Willman Cardozo.

- Na quarta feira, os protestos serão intensificados. Não descartamos nenhuma medida: conhecemos todo o território palmo a palmo e sabemos onde estão os gasodutos - ameaçou um dirigente regional.

Kirchner e Morales discutirão comércio bilateral

O governador de Tarija, o opositor Mario Cossio, pediu ontem um melhor relacionamento com o governo do presidente Evo Morales para responder o quanto antes às demandas dos trabalhadores. A prefeitura evita entrar no mérito da unidade da YPFB e do conflito limítrofe, que seriam de "competência nacional".

A despeito dos conflitos locais, Evo Morales e o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, têm encontro marcado no dia 2 de maio, na região de Chaco, para tentar dar novo fôlego a um projeto de ampliação do comércio bilateral de gás natural. Os dois países deram início, recentemente, a um projeto de quase US$2 bilhões para bombear, a partir de 2010, até 20 milhões de metros cúbicos diários adicionais do Chaco até o norte da Argentina.