Título: Homenagem a um herói nacional
Autor: Costa, Mariana Timóteo da
Fonte: O Globo, 16/04/2007, O Mundo, p. 36

Correa quer sede da Assembléia em Montecristi, onde nasceu um de seus mais famosos antecessores

QUITO. Além das dúvidas de como a Assembléia Constituinte operaria no Equador, uma grande incógnita é onde ela se reuniria. Os 130 assembleístas teriam plenos poderes e, portanto, poderiam decidir seu local de trabalho. Mas Rafael Correa já deu sua sugestão: gostaria que a assembléia funcionasse em Montecristi, pequena cidade na província de Manabí, noroeste do país. O objetivo principal seria homenagear o maior herói da história equatoriana, o militar José Eloy Alfaro Delgado, que nasceu ali.

¿ Além de descendente direto de Eloy Alfaro, Correa acha que a Assembléia deve se reunir fora de Quito, para ter paz e tranqüilidade para trabalhar, e que ela poderia servir como um pretexto também para desenvolver a infra-estrutura de Manabí, onde vive bastante gente pobre ¿ diz ao GLOBO o historiador Juan Paz e Miño, da Universidade Católica de Quito.

Eloy Alfaro era militar e presidiu o Equador entre 1895 e 1901 e entre 1906 e 1911. Em suas gestões foi construída a ferrovia Quito-Guayaquil, o Exército se modernizou e, principalmente, ocorreu a Revolução Liberal ¿ que separou Igreja e Estado, legalizou o divórcio, construiu uma série de escolas públicas e deu a todos os equatorianos o direito a educação laica e gratuita, além do matrimônio civil.

Alfaro foi assassinado em 1912 e seu corpo foi arrastado pelas ruas de Quito, onde uma larga e moderna avenida hoje leva seu nome. É do ex-presidente uma frase que serve de inspiração para o atual presidente: ¿A liberdade não se implora de joelhos, se conquista nos campos de batalha¿.

¿ Graças a Alfaro, o Equador era um dos Estados latinos mais modernos do fim do século XIX, início do século XX. Correa quer assimilar essas idéias de mudança, fazer reformas profundas no país ¿ opina o historiador.

Segundo críticos, no entanto, Correa é tudo menos liberal. O grande temor é que seu governo nacionalista deixe de atrair investimentos estrangeiros e faça o país crescer menos. Além disso, gastaria mais do que deveria para construir a infra-estrutura de uma assembléia num local remoto como Montecristi. Mas Miño lembra que ser liberal na época de Alfaro é muito diferente do que ser neoliberal hoje em dia.

¿ O Equador teve 19 constituições desde a independência em 1830. Em cada uma, houve avanços ¿ diz. (M.T.C)