Título: Filósofo é um antigo e forte crítico do PT
Autor: Damé, Luiza e Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 19/04/2007, O País, p. 11

Ele já foi guru de Brizola e Ciro Gomes, e é fundador do PRB.

"Não sou político, falo com sotaque estrangeiro, sou desajeitado, mas acho que o povo brasileiro é singularmente despido de preconceitos e que o país tem fome de alternativa". A descrição foi dada pelo próprio professor e filósofo Mangabeira Unger ao colunista do GLOBO Merval Pereira, em setembro de 2005. Na época, era ainda crítico do governo Lula e tentava ser escolhido candidato à Presidência pelo PDT. "Digo que falo com sotaque, mas, ao contrário dos homens que vêm dirigindo o país, eu não penso com sotaque". Acabou preterido pelo senador Cristovam Buarque. Se lançou pré-candidato pelo PHS em 2006, agradando a Caetano Veloso, um de seus maiores fãs, mas não levou a idéia adiante.

Em 2006, filiado ao PRB do vice José Alencar e do senador Marcelo Crivella - partido que ajudou a fundar - , aproximou-se de Lula. Participou de comício em Mossoró (RN). Foi apresentado por Lula, que disse que Mangabeira não discursaria porque "ele fala meio inglês ainda", em referência ao sotaque.

O professor passou a infância no Estados Unidos por causa do pai americano. Veio para o Brasil, formou-se em direito na UFRJ e voltou aos EUA nos anos 70 para fazer pós-graduação na Universidade de Harvard. Convidado para dar aulas de direito aos 22 anos, tornou-se um dos mais jovens professores desde a fundação da instituição, no século XVII. É membro da Academia Americana de Artes e Ciências.

"Via o PT como confederação de interesses corporativistas"

Sua aproximação com a política partidária começou com a formação do PMDB, ao lado de Ulysses Guimarães. É autor do manifesto de fundação do partido. Mais tarde, desapontado com os rumos do PMDB, juntou-se ao PDT de Leonel Brizola. "Não acreditava no PT, via nele um partido que representava uma confederação de interesses corporativistas, a minoria organizada do povo. E o partido de Brizola me parecia que mantinha um vínculo com a tradição trabalhista brasileira e com o grande enigma do país, que é essa maioria desorganizada", disse em 2005.

Mangabeira esteve ainda no centro de uma polêmica com Ciro Gomes (PPS), em 2002. Então candidato à Presidência, Ciro anunciou que, eleito, proporia ao Congresso projeto de reforma política que daria ao presidente e ao próprio Congresso prerrogativa de antecipar as eleições de forma unilateral, sem acordo prévio entre os poderes. Ciro dizia que queria estimular referendos e plebiscitos, aumentando a participação popular. As idéias, atacadas por adversários e aliados, estavam no livro que escreveu com Mangabeira: "O próximo passo: uma alternativa prática ao neoliberalismo". Após a derrota de Ciro, o professor desfiliou-se do PPS.