Título: Dois pontos e nada mais
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 22/04/2007, O Globo, p. 2

Conversas entre o presidente da República e seus adversários são atos políticos saudáveis. Nenhum deles deixará de ser o que é por causa disso. Se o ambiente político melhora, o que for mais competente pode ganhar com isso. Nós, outros, nem sempre. O presidente Lula e o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati, só tinham na verdade dois assuntos importantes a tratar: a renovação da CPMF e o fim da reeleição, duas invenções tucanas.

A CPMF, e seu complemento, a DRU, é tudo o que interessa realmente ao governo na agenda legislativa deste ano. O resto, nele incluídas as reformas política e tributária, são conversas para boi dormir. Sem os R$30 bilhões que todos nós deixamos no banco para o governo, em forma de CPMF, não haverá PAC, nem investimento nem sanidade fiscal.

Restar saber a quem exatamente interessa o fim da reeleição. Lula reclamou de estarem tentando jogar em seu colo um assunto no qual não tem qualquer interesse direto. Sempre foi contra a reeleição, mas não recusou o segundo mandato. O senador tucano negou que tenham tratado disso, mas políticos do PSDB relatam que houve "uma abordagem ligeira". É ao PSDB que o assunto interessa, por razões bem conhecidas. Não porque tenham comprovado, como dizem os pregadores do fim da reeleição, que ela incentiva os governantes a usarem a máquina e os recursos públicos para se reelegerem. Ora, disso sabíamos todos quando ela foi aprovada em 1997. Mas, sem reeleição, os governantes usavam a máquina do mesmo modo, para eleger seus sucessores. E é o que farão se a regra antiga for restaurada.

Com o PSDB rachado, parte dos tucanos quer o fim da reeleição para acomodar interesses e alavancar projetos - não só os nacionais, mas também os regionais. A emenda, entretanto, só passa se o governo apadrinhar. Lula pode ajudar os tucanos na empreitada e ser ajudado na aprovação da DRU-CPMF. Não haverá nada demais num tal acordo, desde que feito às claras, sem nada omitir dos eleitores de cada lado. Republicanamente, para usarmos o termo tão caro a petistas e tucanos. Mas, por alguma razão, eles não quiseram divulgar nem fotografia do encontro, muito menos o inteiro teor da conversa. Mas ela terá desdobramentos, no curto e no médio prazo. Um dos mais imediatos pode ser a manutenção de Tasso na presidência do partido.