Título: Ségolène nos subúrbios, Sarkozy na elite
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 24/04/2007, O Mundo, p. 25

Candidato venceu em 17 regiões mas foi derrotado por socialista no palco das revoltas de 2005

PARIS. Ségolène Royal, a candidata do Partido Socialista, disparou na frente de Nicolas Sarkozy, seu rival da direita, nos subúrbios pobres, como era esperado. Foi o caso na região de Seine-Saint-Denis, lá onde estão vários bairros descritos como ¿sensíveis¿. Foi nesta região em que jovens filhos de imigrantes queimaram milhares carros em novembro de 2005, numa revolta contra o desemprego e a discriminação.

Em Clichy-sous-Bois, periferia pobre de Paris onde foi detonada a revolta, Royal venceu Sarkozy de forma arrasadora: 41,5% contra 24,4%.

Mas uma análise detalhada da votação de domingo não deixa dúvida que, se for seguida a tendência do primeiro turno, Sarkozy, candidato do direitista UMP, será o próximo presidente. Ele liderou os votos em nada menos do que 17 regiões da França, enquanto Ségolène liderou em apenas cinco.

Outro dados interessantes da campanha: a candidata socialista conquistou mais os jovens do que seu rival da direita, que lidera no eleitorado acima dos 50 anos. Ségolène conquistou mais votos na classes média, enquanto Sarkozy foi o preferido dos pequenos empresários, comerciantes e camponeses. Ou seja, Sarkozy conquistou ¿a França que se levanta cedo¿, segundo Emmanuel Rivière, diretor de estudos políticos do instituto de sondagens TNS-Sofres. O extremista de direita Jean-Marie Le Pen, por sua vez, foi um sucesso na classe operária.

Uma revelação do TNS-Sofres: Sarkozy conquistou mais votos entre mulheres (33%) do que Ségolène ( 27%). Mas no voto feminino, Ségolène teve mais votos entre jovens de 18 a 24 anos (34%) do que Sarkozy (19%). Os idosos votaram em massa em Sarkozy: 44% , contra 21% para a socialista. No geral, 48% dos eleitores de Ségolène são homens e 52% são mulheres. Enquanto Sarkozy é o inverso: tem mais sucesso entre as mulheres (55%) do que entre homens (45%).

Outro dado importante para a campanha de ambos os candidatos: 24% dos que votaram à favor da Constituição Européia no referendo de 2005 (que rejeitou o documento) votaram em Ségolène Royal. Já 42% dos que rejeitaram a constituição votaram em Sarkozy. A pesquisa da TNS-Sofres também mostra que Ségolène se beneficiou do voto útil: 56% de seus votos foram de pessoas que a escolheram para impedir a ascensão de Sarkozy.

Extremista Le Pen não vence em qualquer região do país

Por região no país, a revelação mais interessante das urnas é que Le Pen, que em 2002 derrotou a esquerda e se classificou para o segundo turno, não conseguiu chegar na frente em nenhum lugar na França, nem mesmo onde seu partido fazia sucesso, como na Provença, na Côte d¿Azur e nos Alpes. O que prova que a estratégia de Sarkozy, de endurecer o discurso para ¿roubar¿ votos de Le Pen, deu certo. No sul da França, Sarkozy disparou na frente, seguido por Ségolène e Bayrou. Ségolène teve sucesso nos Pirineus e no sudoeste da França.

Em Paris, como se esperava, Sarkozy ganhou nos bairros mais chiques, como em Saint-Germain des Près, por 43,65% contra 24,43%, e no 16º arrondissement, o mais esnobe de todos, onde arrasou Ségolène com 64,02% contra 11,27% . Nos bairros mais populares de Paris, como o 18º arrondissement, ela bateu Sarkozy com folga: 41,51% contra 23,44%. (D.B.)