Título: Uma batalha pelo centro
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 24/04/2007, O Mundo, p. 25

Candidatos saem em busca de votos de Bayrou. Pesquisa revela que Sarkozy é favorito de centristas.

Eles não perderam tempo. Na manhã seguinte à vitória no primeiro turno das eleições presidenciais, Nicolas Sarkozy, candidato da UMP, o partido de direita, e Ségolène Royal, sua rival do Partido Socialista, saíram em campo pela França para coletar votos para o duelo final no dia 6 de maio, data do segundo turno. A caça ao eleitorado do centrista François Bayrou, da UDF, que foi eliminado no primeiro turno mas reuniu 18,5% dos votos, já começou. Tanto Sarkozy quando Ségolène disputam os votos do centrista. Segundo analistas, são os eleitores de Bayrou quem vão decidir para que lado pesará a balança: direita ou esquerda.

Ségolène Royal enviou ontem mesmo mensagem para o celular de Bayrou propondo um ¿diálogo aberto e público¿, em que falava em buscar ¿convergências¿. Detalhe: antes do primeiro turno, personalidades socialistas como Michel Rocard, ex-primeiro-ministro e atual deputado europeu, haviam sugerido uma aliança entre o PS e o partido de Bayrou ¿ algo rechaçado pelos dois campos. Agora, a candidata disse que está fazendo oferta de diálogo com a UDF ¿de mão estendida¿ e que espera uma resposta:

¿ Eu me declaro disponível para conversar sobre o futuro da França com aqueles que durante toda a campanha desejaram trocas e renovação política ¿ disse Royal.

Ségolène terá que se esforçar muito. Segundo pesquisa do instituto Ipfos publicada ontem, 54% dos eleitores de Bayrou querem votar em Sarkozy.

O partido de Bayrou geralmente votou com a direita no Parlamento, mas durante a campanha Bayrou fincou pé no centro, rechaçando as divisões tradicionais entre esquerda e direita e prometendo um governo que iria utilizar o melhor dos dois lados. A mensagem não convenceu. E agora muitos perguntam que lado ele vai favorecer.

Candidato de centro guarda silêncio

A socialista foi ontem para Valence, na região de Drôme, reduto da direita onde Sarkozy derrubou os socialistas confortavelmente: 29,92% contra 24,23% para Ségolène. Já Sarkozy escolheu fazer campanha em Dijon, considerada um bastião da esquerda, mas que fica na região de Côte-D¿Or, onde ele também venceu Ségolène com folga: 32.08% contra 24.14%.

Relaxado e confiante, ele conclamou os eleitores a apoiarem seu projeto de ¿um novo sonho francês¿, de um país, que, segundo ele, será bem mais dinâmico. Num discurso, bateu nos temas preferidos de campanha: mais trabalho, autoridade, identidade nacional e renovação econômica.

O dia foi marcado pelo silêncio de Bayrou. Na sede da UDF em Paris, um aviso: o centrista só vai falar amanhã. Políticos da UDF estudam uma estratégia. O partido vai aproveitar seu peso no primeiro turno e o fato de que se tornou, desde domingo, a terceira maior força política da França, para garantir um espaço no próximo governo, seja de direita ou esquerda.

Silêncio também de outro grande perdedor, o extremista de direita Jean-Marie Le Pen, que ficou bem abaixo dos 16% que obteve no primeiro turno de 2002, quando derrubou o socialista Lionel Jospin e se classificou para o segundo turno. Os 11% de votos de Le Pen também são preciosos para Sarkozy. E esta é parte da explicação da baixa votação de Le Pen: Sarkozy endureceu o discurso para atrair o eleitorado do extremista. Agora, resta saber que estratégia Sarkozy adotará nas próximas semanas: se endurecer demais o discurso para obter os votos dos lepenistas, perderá a chance de obter mais votos do centrista Bayrou. E vice-versa. De qualquer forma, todas as pesquisas dizem que Sarkozy será o próximo presidente da França: ele venceria por 52% a 54% contra 46% a 48% para Ségolène.