Título: Sarkozy compreendeu que a França é um país social
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 29/04/2007, O Mundo, p. 41

Para analista, os dois candidatos convergem para o centro.

PARIS. Presidente do Observatório Francês sobre a Conjuntura Econômica (OFCE), Jean-Paul Fitoussi, diz que a França vai eleger no próximo domingo um ¿governador de Estado¿, e não um presidente. A França, diz ele, é apenas uma província da União Européia. Para Fitoussi, a saída para o país está no fortalecimento da Europa.

Qual o problema com o modelo francês? Ele existe?

JEAN-PAUL FITOUSSI: Existe uma cultura francesa que criou um sistema de proteção social. Este sistema funcionou bem. A França é o único país industrial onde as desigualdades não aumentaram nos últimos 20 anos. Mas este modelo deixou passar por sua rede dois grandes problemas: segregação urbana, e aumento da precariedade do trabalho. Mas não se joga pela janela um modelo que foi o único a conter as desigualdades.

Qual caminho dos dois candidatos tem mais chance de dar certo na França?

FITOUSSI: Em vários aspectos os dois programas são parecidos. Os dois propõem investimentos em infra-estrutura, no ensino superior e na pesquisa, e uma política de crédito. Há uma diferença em relação aos impostos: Sarkozy quer baixar, e Royal não se posicionou sobre isso. O custo dos dois programas é quase o mesmo. Os dois visam ao crescimento.

Ségolène e Sarkozy, então, são a mesma coisa?

FITOUSSI: Eles têm personalidades e equipes muito diferentes. Sarkozy é de direita, mas ele compreendeu que a França é um país social. A direita na França é uma direita social. Já os socialistas compreenderam que são de esquerda, mas que as políticas de esquerda não funcionam. O partido se chama socialista, mas eles perguntam: o que fazemos? Os dois convergem em direção ao centro.

Então não existe mais diferença entre esquerda e direita no plano econômico?

FITOUSSI: A esquerda francesa e européia ainda não têm clareza sobre isso. Há outro fato. Nós acreditamos estar elegendo um presidente da República. Na realidade estamos elegendo um governador de Estado. A França é uma província da Europa. A maior parte de nossas leis é de leis européias. É a UE que determina a política de câmbio e orçamentária.

E o senhor acha isso positivo?

FITOUSSI: O problema da Europa hoje é que ela não tem um governo federal. É preciso assumir a Europa e fazê-la avançar sobre o plano político. Se a França vai mal, é a zona do euro que vai mal. É um milagre que a zona do euro tenha voltado a crescer, num contexto de valorização de 80% do euro em relação ao dólar, ao yen (Japão) e ao iuane (China). Os países da UE estão pagando o preço econômico da ausência de governança política da UE. (D.B.)