Título: Marta
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 05/05/2007, O Globo, p. 2

Depois que Marta Suplicy virou ministra, setores do PT passaram a apontá-la, com mais insistência, ora como candidata à Prefeitura de São Paulo no ano que vem, ora como candidata à Presidência em 2010. Ontem o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, voltou a dizer que ela é o "nome natural" para a prefeitura. Ela não quer tratar disso. Diz que hoje só pensa em fazer uma boa gestão no Turismo. Até aqui, as oportunidades teriam sempre chegado com naturalidade. "O que tiver de ser será".

Em conversa ontem com a coluna, recordou a própria trajetória para mostrar que sempre foi assim. Acredita que candidaturas majoritárias são fruto de uma combinação de fatores, nunca só do voluntarismo do interessado. Virou deputada quase por acaso e assim chegou à prefeitura. Quis disputar o governo do estado com Serra no ano passado. Acreditou na isenção de Lula e só no fim da campanha para as prévias do PT constatou que ele apoiava mesmo o senador Mercadante. Perdeu, aceitou o resultado, fez campanha para o vencedor e suou a camisa por Lula no segundo turno da disputa presidencial. Nem por isso achava que ele lhe devia um ministério. Sabe, por experiência própria, como é difícil acomodar os aliados numa equipe. Nunca exigiu a pasta da Educação ou a das Cidades, como espalhavam seus aliados. "Devia ser desejo deles", diz Marta, jurando estar muito feliz no Turismo.

- Estou maravilhada com o trabalho que encontrei, deixado pelo (Walfrido dos) Mares Guia. E maravilhada com o potencial econômico e social do turismo, com tudo o que poderei fazer. Sou uma fazedora.

Diz ter encontrado a pasta (criada por Lula em 2003) estruturada e enxuta, e ter herdado bons técnicos (só trocou os servidores que o antecessor levou para o Planalto). Herdou estudos, pesquisas, bons programas. Mantendo as metas de atração de turistas estrangeiros, pretende fortalecer o mercado interno e dar-lhe conteúdo social, com dois programas de inclusão via crédito consignado (um para idosos, outro para trabalhadores ativos). Estudando as políticas setoriais de outros países, constatou que alguns, como a Espanha, desde o governo liberal de Aznar, vêm subsidiando o turismo doméstico na baixa temporada. Evitando demissões coletivas, gasta-se menos que com seguro-desemprego. Mas tudo isso certamente tem o objetivo de fortaleceu seu nome. Ou não? E, se 2010 está longe, as chapas municipais já começam a ser montadas. E se Lula pedir? E se o PT não tiver outro candidato a prefeito?

- Não descarto nenhuma possibilidade, mas não tenho idéia fixa. Boas soluções vêm no tempo certo, e naturalmente.

Mas ela sonha, e não nega, com o dia em que o Brasil também possa ter, como o Chile, uma mulher na Presidência. Torce ardentemente para que Sègoléne Royal seja vitoriosa amanhã na França. Gasta o francês recordando, com entusiasmo, o momento quente do debate de quarta-feira, quando a socialista externou sua cólera contra o direitista Sarkozy.

Mas o que está no horizonte é a disputa municipal, e o jogo em São Paulo começa a ser amado. Se Marta for candidata, os seguidores do ex-governador Geraldo Alckmin poderão dizer que, contra ela, só ele, o melhor quadro tucano. Se Marta não concorrer, Serra ficará mais à vontade para apoiar, oficialmente ou não, o atual prefeito, Gilberto Kassab, do DEM, de quem poderia ter apoio em 2010, se for ele o candidato tucano a presidente.

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