Título: Sealopra, Portos & Cia
Autor: Virgílio, Arthur
Fonte: O Globo, 08/05/2007, Opinião, p. 7

Estamos na iminência da criação de mais dois cargos ministeriais. O 36º seria o de secretário dos Portos, e o 37º, o de secretário especial de Ações de Longo Prazo - o Sealopra, como jocosamente já denominam essa secretaria, numa alusão aos "aloprados" petistas envolvidos na operação de R$1,7 milhão, frustrada pela Polícia Federal às vésperas das eleições.

Um se destinaria ao PSB, para compensar a perda do Ministério da Integração Nacional, que o presidente Lula cedeu ao PMDB. O outro, ao partido do vice-presidente, José Alencar, não importando que o nome escolhido para a titularidade seja o do professor Mangabeira Unger, aquele mesmo que, indignado com a sucessão de fatos escandalosos na última fase do primeiro mandato do presidente Lula, publicou artigo exigindo o impeachment e acusando o governo de ser "o mais corrupto de nossa História".

Não entendo, de jeito algum, essa distribuição de cargos para satisfazer uma pletora de partidos políticos e formar uma numericamente formidável base parlamentar nem se sabe bem para quê. Para barrar CPIs já se viu que é inútil. Para aprovar projetos de lei de interesse do governo tampouco parece ter serventia, pois o presidente da República continua entupindo o Congresso Nacional de medidas provisórias e não de propostas de reformas estruturais. Prefere dispensar o caminho normal do processo legislativo, menosprezando o Parlamento e, em alguns casos, a própria lei. De fato, em pleno início da execução do Orçamento, tem ele se valido de medidas provisórias para abrir pequenos e até vultosos créditos extraordinários, em flagrante ilegalidade. Prática, aliás, que o PSDB e o DEM, no Senado, decidiram não mais tolerar. Se a MP não atender aos requisitos constitucionais de urgência e relevância, suas bancadas se retirarão do plenário. Se os governistas conseguirem quórum, a oposição votará contra. Se derrotada, baterá às portas do STF.

Voltando à criação de mais cargos ministeriais, observo que estamos diante de um recorde. "Nunca antes neste país" um governo teve tantos ministros de Estado. Collor trabalhou com 12. Fernando Henrique foi duramente criticado por ter chegado ao final do seu segundo termo com 27. Estamos atingindo, agora, 37! Mais que três times de futebol, para usar figura de linguagem tão ao gosto presidencial. E tudo para atender a medíocres conveniências políticas.

Tudo para contentar a base aliada, pois cada "patriota" quer abocanhar a sua fatia do bolo do poder. Cada órgão desses, ministério ou secretaria com igual status, vem acompanhado de bom punhado de cargos em comissão, preenchidos por pessoas livremente nomeadas e muito bem remuneradas. É o governo gastando em custeio e deixando de investir na infra-estrutura de que o país precisa, para se desenvolver, para se aproximar das taxas de crescimento apresentadas até mesmo pelos nossos vizinhos sul-americanos. É desperdício em cima de desperdício! E quem paga a conta? Ora, prezado leitor, os contribuintes! Você, a senhora, seu marido, sua filha, seu pai. É por isso que a carga tributária não recua, e o governo ainda acena com a possibilidade de mais aumentos. A Nação exige: menos custeio e mais investimentos!

ARTHUR VIRGÍLIO é líder do PSDB no Senado.