Título: D. Geraldo Majella: 'No meu seminário 80% são negros e são inteligentes'
Autor: Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 15/05/2007, O País, p. 4

DEPOIS DO PAPA: Presidente da CNBB admite "problemas" na colonização.

Arcebispo de Salvador nega que haja discriminação racial na Igreja.

APARECIDA (SP). Ao comentar o desequilíbrio existente no episcopado brasileiro, que tem apenas 11 negros em cerca de 400 bispos, o cardeal Geraldo Majella Agnelo, arcebispo de Salvador e ex-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), disse ontem que não há discriminação racial por parte da Igreja. Segundo ele, na Bahia, onde mora, 80% dos seminaristas "são negros e inteligentes".

- Não há, da parte da Igreja, discriminação. No Brasil, uma boa parte da população é de origem e tem sangue (africano). Ainda que a cor externa, digamos, seja branca, existe uma presença africana. Mas não podemos deixar de tratar, de estudar, e ver se no Brasil ainda existe realmente preconceito. Os negros são muito inteligentes. Sou de Salvador e no meu seminário 80% são de origem africana e são inteligentes. Mas é um povo que ainda traz marcas do tempo da escravidão, aquela herança, e isso tem que ser levado em consideração para que sejam tratados bem - disse dom Geraldo Majella.

Dom Geraldo: João Paulo II já pediu perdão aos índios

O novo presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo nomeado de Mariana (MG), entrou na polêmica sobre a evangelização dos índios latino-americanos. Segundo ele, os povos indígenas assumiram a fé cristã e a "reinterpretaram em uma perspectiva aculturada". Mas, observou, o Papa João Paulo II já havia pedido perdão aos negros e aos índios pelos erros cometidos pela Igreja ao longo dos séculos:

- Isso não quer dizer que o processo de evangelização que se fez no contexto da colonização não tenha tido também seus problemas, suas ambigüidades. Inclusive o Papa João Paulo II pediu perdão aos negros e aos índios pelas falhas cometidas. Claro que o Papa Bento XVI não se colocou contra essa perspectiva de João Paulo II, mas ele chamou a atenção para um outro aspecto que é exatamente o processo que se deu ao longo dos cinco séculos de assimilação e incorporação na forma aculturada, como nós temos em tantas outras formas na América Latina.