Título: Blitz no Aeroporto Internacional
Autor: Costa, Ana Cláudia e Goulart, Gustavo
Fonte: O Globo, 18/05/2007, Rio, p. 14

Polícia prende maleiros e recepcionistas acusados de fazer câmbio ilegal, além de taxistas piratas.

Cinqüenta e sete pessoas, entre maleiros suspeitos de fazer câmbio ilegal, recepcionistas de empresas de táxi acusadas do mesmo crime e supostos taxistas piratas, foram presas ontem, no Aeroporto Internacional Tom Jobim, durante a Operação Blecaute, desencadeada pela Delegacia Especial de Atendimento ao Turista (Deat). No total, foi apreendido o equivalente a R$132 mil, entre reais, dólares e euros, com maleiros e recepcionistas, além de celulares. A ação, segundo o delegado Fernando Veloso, titular da Deat, teve também o objetivo de prender uma quadrilha que passava informações privilegiadas sobre turistas a ladrões, que assaltam visitantes no trajeto entre o aeroporto e o hotel.

Para não atrapalhar as investigações, o delegado se negou a dizer se havia no grupo detido algum integrante da quadrilha. Ele revelou que os maleiros são usados num grande esquema de lavagem de dinheiro, com a compra de dólares e euros para serem enviados para o exterior. Onze deles foram presos em flagrante, após serem filmados por microcâmeras e câmeras do aeroporto fazendo câmbio. Um deles, Carlos Hang de Santana, de 53 anos, chegou a esconder cerca de R$5 mil na cueca, o que só foi descoberto na sede da Deat. Um maço de R$5 mil em notas de R$50 foi jogado no chão do aeroporto por algum maleiro. No total, foram detidos 35 carregadores, 12 recepcionistas e dez taxistas.

- Há notícias de homicídios e roubos entre eles (maleiros). Essa é a ponta de um grande esquema de lavagem de dinheiro e sabemos que os maleiros não são os chefes. Vamos enviar todo o material relacionado à investigação à Polícia Federal, a quem cabe desvendar o esquema - disse Fernando Veloso. - Com a chegada dos Jogos Pan-americanos, fomos orientados a descobrir áreas sensíveis do aeroporto, sem controle. Nos estacionamentos, há vários pontos assim.

Tripulantes de aviões recorriam a maleiros

Segundo o delegado, até tripulantes de aviões abordavam os maleiros. Para prender os doleiros, policiais passaram dois meses no aeroporto disfarçados de turistas, agentes de turismo e taxistas, filmando e fotografando todo o movimento de câmbio ilegal e dos táxis piratas. A investigação, de acordo com Fernando Veloso, começou após a prisão de dois bandidos que assaltaram turistas na saída do aeroporto. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que estava no local aguardando seu embarque para Brasília, parabenizou os policiais pela operação e reiterou o que disse Veloso sobre os maleiros, que seria cúmplices de assaltantes de turistas.

- Esse é um exemplo de operação de inteligência. Os policiais trabalharam em silêncio, investigando o bando que passava informações para quadrilhas de assaltantes de turistas - disse o secretário.

A operação começou por volta das 11h. Cerca de 120 policiais da Deat, da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) e da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) participaram da ação. As equipes se reuniram na sede da DRFA, no Caju. No caminho para o aeroporto, na Linha Vermelha, policiais chegaram a ser atacados por traficantes da Favela Parque Alegria. Vários tiros foram disparados e até uma granada chegou a ser lançada em direção aos carros da polícia, mas ninguém ficou ferido.

Todas as saídas dos dois terminais do Aeroporto Internacional foram cercadas. Uma blitz também foi montada na avenida de saída do aeroporto. À medida que policiais entravam no saguão dos terminais de embarque e desembarque, os carregadores de malas que atuavam fazendo câmbio, taxistas e recepcionistas eram detidos para ser revistados.

Todos os maleiros que alegavam pertencer ao Sindicato dos Carregadores e Transportadores de Bagagens do Aeroporto Internacional Tom Jobim foram levados para uma determinada área do saguão para ser revistados.

As recepcionistas que trabalhavam em empresas legais de táxi, mas que também faziam câmbio ilegal, foram levadas por policiais civis femininas para o banheiro, para a revista. Fernando Veloso acrescentou que essas recepcionistas também indicavam táxis piratas para turistas. Os veículos, ainda de acordo com o delegado, eram carros comuns, que normalmente ficavam estacionados na área ao redor do aeroporto, até o motorista ser chamado.

De acordo com o delegado Fernando Veloso, os maleiros agiam uniformizados e nunca carregavam malas. O valor do câmbio, segundo o policial, variava a cada dia, dependendo da cotação oficial. O câmbio ilegal era feito no próprio saguão do aeroporto, sem que nenhum deles fosse importunado. Os presos responderão a inquérito pelos crimes de formação de quadrilha, contra o sistema financeiro e exercício ilegal da profissão (no caso dos taxistas piratas).

COLABOROU Natanael Damasceno