Título: Alunos com Bolsa Família têm reprovação mais alta
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 19/05/2007, O País, p. 14

Pesquisa mostra que, entre os pobres, os que recebem o benefício freqüentam mais a escola, mas têm pior desempenho.

BRASÍLIA. A reprovação na escola é maior entre os filhos de quem ganha o Bolsa Família, revela pesquisa divulgada ontem pelo Ministério do Desenvolvimento Social. O estudo comparou o desempenho de estudantes de famílias que recebem e que não recebem o benefício, mas são igualmente pobres. No grupo atendido pelo programa, a taxa de reprovação ficou de 3,4 a 3,9 pontos percentuais maior do que entre os alunos não-atendidos.

Já a taxa de freqüência dos estudantes com pais no Bolsa Família ficou 3,6 pontos percentuais acima da registrada pelos colegas pobres que não contavam com o benefício, chegando a 7,1 pontos no Nordeste. Da mesma forma, a taxa de evasão foi de 1,6 a 2,1 pontos percentuais menor. Ou seja, os estudantes do Bolsa Família permaneceram mais na escola, mas tiveram pior desempenho.

- Era um resultado esperado, mas não desejado. Já foi observado em vários lugares do mundo - disse o secretário de Avaliação e Gestão da Informação, Rômulo Paes.

O raciocínio do secretário é o seguinte: à medida em que os alunos do Bolsa Família tiveram acesso e permaneceram mais na escola, seria natural que taxa de reprovação também aumentasse, uma vez que são estudantes pobres e seus pais têm pouca ou nenhuma escolaridade. Ocorre que a pesquisa compara o desempenho de dois grupos igualmente pobres. A diferença é que um recebe o Bolsa Família e o outro, não.

A secretária de Renda de Cidadania, Rosani Cunha, sugeriu que o pior rendimento dos alunos do Bolsa Família está mais ligado à baixa qualidade do ensino do que ao programa de transferência de renda:

- Não se pode responsabilizar o programa por outras políticas públicas que não funcionam.

A pesquisa Avaliação de Impacto do Programa Bolsa Família foi realizada em novembro de 2005, pela Universidade Federal de Minas Gerais, ao custo de R$6 milhões. Os dados de reprovação se referem ao período de 2004 e 2005 e foram coletados em 269 municípios de todos os estados, à exceção de Acre, Roraima e Tocantins. Foram respondidos 15.240 questionários.

Para ter direito aos repasses mensais de R$15 a R$95, os beneficiados devem garantir que seus filhos entre 6 e 15 anos assistam a pelo menos 85% das aulas. Não há exigência de que sejam aprovados.

A pesquisa demonstrou que não há diferença estatisticamente relevante em termos de procura de emprego de quem recebe ou não o Bolsa Família, contrariando a tese difundida por críticos do programa de que o repasse mensal médio de R$62 levaria à acomodação e ao ostracismo. Nos lares que ganham o repasse, havia maior número de trabalhadores ocupados.

O estudo analisou também os gastos de quem recebe o repasse. O objetivo é verificar o impacto do programa no cotidiano da população pobre. Em 2007, 11 milhões de famílias deverão ser atendidas. O investimento será de R$8,6 bilhões.