Título: Lula elogia PF, mas defende irmão
Autor: Fernandes, Diana
Fonte: O Globo, 06/06/2007, O País, p. 3

MAIS UM ESCÂNDALO

Presidente se irrita ao saber de ação e pede serenidade à PF para não punir inocentes.

Avisado pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, de que a Polícia Federal faria buscas na casa de seu irmão mais velho, Genival Inácio da Silva, de 66 anos, por suspeita de tráfico de influência e exploração de prestígio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava na Índia, reagiu com irritação. Poucas horas depois, porém, defendeu a ação da PF na Operação Xeque-Mate, que vasculhou a casa de Vavá em São Bernardo do Campo anteontem, e disse acreditar na inocência do irmão. O presidente voltou a pedir serenidade da PF para que inocentes não sejam punidos. Com elogios ao irmão, visivelmente triste, Lula disse não acreditar que ele tenha praticado alguma atividade ilegal. Repetiu que a PF tem que continuar investigando com seriedade todos os indícios de irregularidades e que quem "pisou na bola" e tiver culpa irá para a cadeia.

- Acho que a Polícia Federal está cumprindo papel extraordinário no Brasil. Eu disse outro dia que a PF vai continuar investigando todas as pessoas. A única coisa que precisamos garantir é que haja justiça efetivamente, que haja seriedade e que haja apuração. Conheço meu irmão há 61 anos, sou capaz de duvidar que meu irmão tenha algum problema, mas, de qualquer forma, se a Polícia Federal fez a investigação, está feita a investigação. Isso vale para qualquer um dos 190 milhões de brasileiros - disse Lula em entrevista concedida à imprensa para falar especificamente sobre o caso, por volta do meio-dia na Índia (4h da madrugada no horário de Brasília). Naquele momento, o presidente estava encerrando visita oficial de três dias à Índia.

Presidente é compadre de preso

O presidente também confirmou ser amigo de Dario Morelli Filho, preso pela Polícia Federal na Operação Xeque-Mate, dizendo ser seu compadre, por ter batizado um filho dele. Na operação, além de Dario Morelli, foram presas 76 pessoas anteontem. Ontem, a PF prendeu, em Minas, Nilton Cezar Servo, amigo de Vavá e de Dario Morelli e que, segundo a polícia, seria o chefe da máfia dos caça-níqueis em Mato Grosso do Sul.

O presidente Lula disse ainda que, se as pessoas não querem ser molestadas, não devem cometer equívocos ou bobagens.

- A única coisa que peço publicamente, e já pedi semana passada, é que a polícia tenha serenidade nas investigações, para que a gente não condene inocentes e para que a gente não venha a absolver culpados. A seriedade para mim é o que conta nisso - afirmou.

O presidente disse que não falou com seu irmão e que não deveria falar ontem porque estaria embarcando em seguida para a reunião do G-8, na Alemanha. Lula disse que foi informado da operação pelo ministro Tarso Genro por volta de 1h da manhã de ontem, pelo horário de Brasília. Segundo ele, o ministro falou da operação e da busca na casa do seu irmão. Segundo assessores do Palácio do Planalto e da PF, porém, o ministrou ligou não ontem, mas anteontem, horas antes da operação.

"Não acredito que o Vavá tenha atividade"

Ao ser perguntado se faria, como irmão, uma avaliação diferente da que fez como presidente da República sobre a operação da PF, Lula respondeu:

- Obviamente que, como irmão, eu tenho um carinho pelo Vavá extraordinário. É um dos melhores irmãos que eu tenho, é uma espécie de pessoa que cuida dos problemas de todo mundo. Não acredito que o Vavá tenha qualquer envolvimento com qualquer coisa, não acredito mesmo. Agora, como presidente da República, se a Polícia Federal tinha uma autorização judicial e o nome dele aparecia, paciência. Todos nós estaremos submetidos às investigações que sejam feitas para apurar qualquer delito cometido no Brasil - disse.

O presidente fez, no entanto, a seguinte ressalva:

- É preciso fazer essa distinção correta e esperar que haja apuração. Na hora que tiver o resultado, a gente vai ficar sabendo quem é culpado, quem é inocente, o que tinha por trás disso mesmo. Vamos aguardar, acho que dentro de 48 horas a gente já deve ter mais notícias.

A defesa do presidente ao irmão se estendeu à suspeita já lançada no início de seu primeiro mandato, quando Genival Inácio da Silva teria tentado intermediar interesses de terceiros junto ao governo federal. Na ocasião, o próprio Lula teria pedido que Vavá se afastasse do governo. Ontem, disse estar convencido de que o irmão não fez lobby ou tráfico de influência, se valendo do poder do irmão presidente:

- Primeiro, não acredito que o Vavá tenha atividade. Eu o conheço bem, não acredito que ele tenha isso, que ele tenha qualquer coisa. Não acredito, não acredito. Mas não acredito mesmo, de verdade. Mas, de qualquer forma, tem uma investigação, vamos ver o que vai dar. Aí, depois da investigação, vamos ver se tem ou não tem alguma coisa - declarou Lula.