Título: Morelli, dono de casa de bingo e amigo de Lula
Autor: Freire, Flávio e Fernandes, Diana
Fonte: O Globo, 06/06/2007, O País, p. 9

MAIS UM ESCÂNDALO: "Sou padrinho do filho dele. Fui informado de que talvez ele estivesse na lista", diz presidente.

Preso pela Xeque-Mate já foi segurança de campanha, uma espécie de faz-tudo para parentes de presidente.

SÃO PAULO E NOVA DÉLHI. Acusado pela Polícia Federal de ser dono de uma casa de bingo em Ilhabela, no litoral paulista, em sociedade com o ex-deputado estadual (PSB) Nilton Cesar Servo - apontado como chefe da quadrilha de caça-níqueis que agia em Mato Grosso do Sul -, o funcionário público Dario Morelli Filho chegou a representar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua mulher, Marisa Letícia, no registro de ocorrências policiais. Constrangido, o presidente Lula admitiu ontem que conhece Morelli, um dos presos na Operação Xeque-Mate. Ao admitir que o conhecia, Lula disse que é padrinho do filho de Morelli:

- Sou padrinho do filho dele. Fui informado de que talvez ele estivesse na lista, mas depois não conversei mais com o Tarso (o ministro Tarso Genro, da Justiça), vamos ver amanhã - disse Lula, ontem, na Índia.

- A informação é que ele foi preso - insistiu um repórter.

- Se foi preso, será investigado, interrogado, e depois haverá um veredito.

Amigo do casal, Morelli foi designado para formalizar queixas em nome de Lula e dona Marisa em delegacias da região do ABC em duas ocasiões. Em 19 de agosto de 2003, esteve numa delegacia de Santo André para assinar boletim de ocorrência sobre o extravio de um aparelho celular em nome de Marisa. Já em 30 de novembro de 2006, Morelli foi à Delegacia Seccional de São Bernardo formalizar queixa sobre o furto de 300 metros de fios de cobre no sítio Los Fubangos, propriedade de Lula em Riacho Grande, no ABC.

Divorciado, Morelli mora num apartamento de classe média baixa na periferia de São Bernardo do Campo, em bairro vizinho ao apartamento da família Lula.

A relação de Morelli com o PT começou em 1994, quando teria sido convidado por Freud Godoy para trabalhar como segurança na campanha de Lula a presidente. Godoy é o ex-segurança do PT que, ano passado, teve seu nome envolvido no esquema de um dossiê contra candidatos tucanos. Foi inocentado da acusação meses depois.

Morelli era uma espécie de faz-tudo para parentes de Lula, até 2002 pelo menos. Teria trabalhado também como segurança e motorista do ex-presidente nacional do PT José Dirceu, nos anos 90. Em junho de 1999, foi nomeado agente de segurança parlamentar na Assembléia Legislativa de São Paulo, cargo que ocupou até abril de 2002. Naquele mesmo ano, passou a trabalhar como assessor técnico da diretoria da Companhia de Saneamento (Saned) de Diadema, cidade administrada pelo petista José Filipe Junior, tesoureiro da campanha presidencial de Lula no ano passado.

Em nota oficial, a Saned informou que Morelli foi exonerado ontem do cargo pelo menos até que as investigações sejam concluídas. "A direção da Saned informa que, surpreendida pelas informações veiculadas pela grande imprensa no dia de hoje (ontem) sobre o suposto envolvimento do senhor Dario Morelli Filho nas investigações da Polícia Federal, decidiu pelo afastamento do funcionário, sem provimentos, até que a situação seja esclarecida", diz a nota.

Segundo a PF, Morelli é sócio de Nilton Servo na Tec Vídeo Bingo, casa de jogos no bairro de Itaguassu, em Ilhabela. Pelas investigações, Morelli também teria relações com Renato Costacurta Prata, preso em Mongaguá, no litoral paulista, anteontem, acusado de gerenciar uma quadrilha especializada em jogos de vídeo e bingo.

O GLOBO apurou ontem que Morelli tem uma empresa registrada na Junta Comercial de São Paulo. A microempresa Dario Morelli Filho ME foi aberta em 2001 para atuar no comércio atacadista de jornais, revistas e livros, com sede na Vila Nova Conceição, na capital paulista. Três anos depois, a área de atuação da empresa foi modificada, passando a ser a de locação de automóveis, e sua sede transferida para a Chácara Santo Antonio. A empresa, conforme os registros da Jucesp, está na ativa.

Lula diz ser, pessoalmente, contra os bingos

Ao comentar a Operação Xeque-Mate, na Índia, o presidente Lula disse ser necessário, na discussão sobre bingos no Congresso, fazer uma distinção entre o jogo feito por idosas e as máquinas caça-níqueis. Lula declarou que, pessoalmente, é contra a existência de bingos, mas afirmou que cabe ao Congresso decidir a matéria. O presidente lembrou que já editou uma medida provisória para acabar com os bingos porque na época as informações que recebia da PF eram de que os bingos seriam usados para lavagem de dinheiro.

O presidente afirmou, no entanto, que há pessoas dizendo que o problema não está na existência dos bingos, mas nas máquinas, onde haveria uma "distorção". Por isso, ele entende que cabe ao Congresso decidir se regulamenta ou não a atividade.

(*) Enviada especial

COLABORARAM: Ricardo Galhardo e Adauri Antunes Barbosa