Título: Tarso mantém Lacerda no comando da PF para esvaziar disputas internas
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 07/06/2007, O País, p. 4

A quem aguardava mudanças, ministro manda "comprar um banquinho"

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. Numa tentativa de esvaziar as disputas internas na Polícia Federal, o ministro da Justiça, Tarso Genro, anunciou ontem que o delegado Paulo Lacerda permanecerá no comando da instituição. O ministro fez o anúncio depois de fazer o convite para que Lacerda permaneça no cargo até o fim deste segundo mandado do presidente Lula. Lacerda aceitou a proposta, mas deixou aberta a possibilidade de rediscutir a questão no início do próximo ano. O diretor defende o rodízio no comando da PF.

- Se tem algum setor dentro ou fora da Polícia Federal que entende que o doutor Lacerda é interino ou que está esperando substituição, é bom comprar um banquinho. Não há nenhuma visão do governo, nem minha, nem do presidente, de que o doutor Lacerda é interino. Ele continua e vai permanecer no cargo - disse Tarso.

Esta é a primeira vez que Tarso Genro fala abertamente sobre a permanência de Lacerda. Em entrevista ao GLOBO, mês passado, o ministro afirmou que ele e o presidente Lula não viam motivos para a saída do diretor-geral da PF. Mas, cauteloso, disse que o assunto ainda não estava encerrado. Agora, preocupado com o acirramento das disputas internas, o ministro formalizou o convite a Lacerda e, momentos depois, tornou pública a decisão:

- Se existe uma disputa interna, corporativa, dentro da PF, é normal. Mas, se existe, que não agudizem essa disputa, porque o doutor Lacerda não é interino.

A disputa pelo comando da PF começou no segundo semestre do ano passado, mas se tornou mais evidente após a divulgação de trechos do relatório da Operação Navalha. Produzido pela Divisão de Contra-Inteligência, o documento resultou no afastamento temporário do diretor-executivo da instituição, Zulmar Pimentel, por ordem do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Pimentel foi acusado de vazar informações da Operação Octopus, origem da Navalha, para o ex- superintendente da PF no Ceará João Batista Santana, em março do ano passado.

Diretor afastado nega vazamento e acusa rival

Em entrevista ao GLOBO semana passada, horas depois de seu afastamento, Pimentel negou o vazamento de informações e atribuiu a acusação ao rival Renato da Porciúncula, diretor de Inteligência da PF. Pimentel e Porciúncula eram, até o fim do ano passado, os mais cotados para a vaga de Lacerda. Em resposta à acusação, Porciúncula disse a colegas de corporação que Pimentel estava sendo vítima dos próprios erros e não de uma ação deliberada dele.

Os rumores sobre as brigas internas ganharam novos rumos depois da deflagração da Operação Xeque-Mate, na segunda-feira. A operação incluiu até uma busca na casa de Genival Inácio da Silva, um dos irmãos do presidente Lula. A partir daí, parlamentares da base governista começaram a levantar a tese de que uma parte da PF, insatisfeita com o afastamento de Pimentel, estaria mandando um recado a Lula. Tarso Genro e a cúpula da PF consideraram descabida a hipótese.

Mas, para conter a nova onda de rumores sobre brigas internas, o ministro e o delegado Paulo Lacerda resolveram pôr um ponto final sobre a disputa pelo comando da PF. Tarso chamou Lacerda ao ministério e pediu que o delegado permanecesse no cargo até o fim do governo. Lacerda concordou com a proposta, mas disse que gostaria de voltar tratar do assunto no início do próximo ano. Lacerda tem dito a auxiliares que existem outros delegados com condições de comandar a PF.

- Acho que foi uma boa decisão. O momento exige cautela, e a permanência dele vem desse anseio. De certa forma, vai tranqüilizar a polícia - afirmou o presidente da Associação Nacional dos Delegados da PF, Sandro Avelar.