Título: 'Senti um choque muito forte, como uma paulada'
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 07/06/2007, O País, p. 16

Executivo que viajava no Legacy depõe na CPI do Apagão.

BRASÍLIA. Passageiro do jato Legacy, que em 29 de setembro de 2006 se envolveu no acidente com o avião da Gol, resultando na morte de 154 pessoas, o coordenador de Estratégias de Comunicação para Aviação Executiva da Embraer, Daniel Bachmann, disse ontem à CPI do Apagão da Câmara que soube apenas depois, pela imprensa, que o transponder da aeronave estava desligado e não deu detalhes sobre as causas do desastre. No entanto, admitiu que acompanhou os pilotos nas conversas com as autoridades da Aeronáutica em várias situações. Único brasileiro entre os 13 passageiros do avião, somente ele falava português. O relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS), considerou o depoimento evasivo e disse que ele não falou toda a verdade.

Bachmann afirmou que o vôo foi tranqüilo até o momento do acidente e que o Legacy permaneceu na mesma altitude, sem sobressaltos, durante todo o tempo. Segundo ele, o monitor que mostra aos passageiros o trajeto e altitude indicou sempre 37 mil pés -- o acidente ocorreu porque o avião não desceu para 36 mil pés, ao passar por Brasília, como o plano de vôo previa. Ele se emocionou, logo no início, quando contou como foi o vôo até o pouso na Serra do Cachimbo. A sessão foi suspensa por cinco minutos.

- Senti um choque muito forte e um eco muito grande, não auditivo, a vibração no corpo, como se tivesse levado uma paulada - disse Bachmann, emocionado, acrescentando: - Só vi pela imprensa que havia essa hipótese (de desligamento do transponder). Não ouvi nenhum comentário desse tipo, sobre o desligamento voluntário ou involuntário (do transponder) - disse Bachmann, sem responder qual é a sua opinião sobre o que ocorreu.

Ao ser confrontado pelo deputado Vic Pires (DEM-PA) com trechos da caixa-preta que indicavam que o piloto Joseph Lepore e o co-piloto Jan Paul Paladino mostravam desorientação e conversavam com os passageiros, Bachmann contou que, após o acidente, foi chamado à porta da cabine porque era o único a falar português. Porém, não acrescentou que os trechos lidos deveriam estar relacionados ao outro funcionário da Embraer a bordo, o americano Henry Yendl, que tem formação de piloto. Ele refutou os argumentos de que eles teriam ficado na cabine com os pilotos, argumentando falta de espaço.

Após o impacto, houve movimentação no sentido de avaliar os danos da aeronave - disse ele, afirmando que durante o vôo os pilotos pareciam tranqüilos.

O relator informou a Bachmann que o depoimento havia frustrado as expectativas.

- Quero manifestar minha indignação com seu depoimento. Esperei que fosse mais explícito sobre o que aconteceu. Em muitos momentos aqui, o senhor faltou com a verdade ou não disse tudo que sabia - disse Marco Maia, acrescentando: - Não sei a quem ele está protegendo! Ele estava na sala no momento em que o comandante do Cindacta 4 conversou com o piloto, que disse que o transponder estava desligado. Portanto, ele sabia que estava desligado.

No Senado, o relator da CPI do Apagão, Demóstenes Torres (DEM-GO), apresentou relatório parcial no qual responsabiliza os dois pilotos americanos e quatro controladores pelo acidente, como fez o Ministério Público. Na lista, estão Lepore, Paladino e os controladores de tráfego aéreo Jomarcelo Fernandes dos Santos; Lucivando de Tibúrcio de Alencar; Leandro José de Barros; e Felipe Santos dos Reis. Para ele, a causa principal do acidente foi "falha humana".

Demóstenes solicitou ao MP que analise a possibilidade de também pedir o indiciamento do supervisor do Cindacta 1, Alexsandre Xavier Barroca, e do controlador João Batista da Silva, que estava em São José dos Campos. E, diferentemente do Ministério Público, classificou a conduta de Jomarcelo como crime culposo, e não doloso.

- Houve uma sucessão de culpas - disse.

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