Título: Tragédia anunciada
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 08/06/2007, O Globo, p. 2

A reforma política está a um passo de ir a pique. O desânimo tomou conta dos principais articuladores da aprovação do relatório do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO). O principal entrave é a introdução do voto em lista fechada, considerado o pilar da proposta. Sem o voto em lista, os partidos também não terão condições políticas de aprovar o financiamento público das campanhas.

As cinco maiores bancadas da Câmara estão divididas. Estariam a favor da lista 204 deputados: 55 no DEM, 53 no PT, 51 no PMDB, 32 no PSDB e 13 no Bloco (PSB-PDT-PCdoB). Estariam contra a lista 171 deputados: 64 no Bloco, 51 no PMDB, 29 no PT, 25 no PSDB e dois no DEM. A situação se inverte nas cinco bancadas médias. A maioria do PP (42), do PR (41) e do PTB (20) são contrários à lista. Enquanto PPS (14) e PV (14) são favoráveis. Defensor da reforma, o líder do PCdoB, Renildo Calheiros, disse que já foi mais otimista. Ciro Gomes (PSB-CE), que mudou de posição sobre a lista para acompanhar seu partido, afirma que a reforma política subiu no telhado. Lelo Coimbra (PMDB-ES) diz que o medo do caciquismo partidário está prevalecendo. E Ronaldo Caiado diz que sem lista não tem reforma:

- A lista é o centro da reforma. Sem ela, não sai financiamento público. O restante é placebo.

Para tentar evitar a derrota, Rita Camata (PMDB-ES) apresentou emenda propondo a lista flexível, semelhante ao sistema da Bélgica. Lá, o eleitor vota na lista e também num dos candidatos, sendo que a votação individual permite que o eleitor mude a ordem dos nomes na lista.

- A lista flexível viabiliza o fortalecimento dos partidos e o direito do eleitor de escolher seu candidato - resume Rita Camata.

O futuro da reforma será decidido na reunião da bancada do PT, na segunda-feira. Para salvar a reforma, Paulo Rocha (PT-PA) pretende convencer a maioria da bancada a apoiar a emenda de Rita Camata. Se isso ocorrer, o PT teria condições de fechar questão e a reforma teria alguma chance de ser aprovada no plenário. Se não houver fechamento de questão, e esta é a tendência, estará dado o sinal de que estão todos liberados. Nesse caso, se saberá antecipadamente que as mudanças serão mínimas. Elas ficariam restritas ao fim das coligações nas eleições proporcionais e às novas regras para a fidelidade partidária, que, de acordo com Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA), seria um retrocesso à luz de recente decisão do TSE.