Título: Pedido de criação da CPI da Navalha é protocolado
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 14/06/2007, O País, p. 12

Mas deputados admitem que comissão não sairá do papel.

BRASÍLIA. Apesar de admitirem que a CPI da Navalha não deve sair do papel, parlamentares da oposição protocolaram ontem pedido para a criação de uma CPI Mista para investigar as denúncias relacionadas a empreiteiras e fraudes em licitações públicas, apuradas pela Polícia Federal dentro da Operação Navalha. Na prática, os oposicionistas quiseram marcar posição, já que conseguiram o apoio de apenas 172 deputados - um a mais do que o número mínimo - e de 30 senadores. Para que haja CPI, o número mínimo é de 171 assinaturas na Câmara e de 27 no Senado. O governo, agora, terá de pagar o ônus do desgaste de operar a retirada das assinaturas se quiser evitar a instalação da CPI.

Os governistas esperam que pelo menos 23 deputados retirem suas assinaturas do requerimento protocolado na Mesa do Congresso. A retirada das assinaturas pode ser feita até a meia-noite do dia em que o requerimento para a criação da CPI for lido em sessão do Congresso, que ainda precisa ser convocada pelo presidente do Senado e das duas Casas, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Antes mesmo de protocolar o pedido, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que coordenou a coleta das assinaturas na Câmara, já admitia que a CPI não deve ser instalada. A tática é expor os parlamentares do governo que mudarem de idéia.

- Sei que, na hora em que apresentarmos o pedido, ele vai ser arquivado. Mas vou guardar esse requerimento na gaveta do meu gabinete só porque tem 20 deputados querendo retirar as assinaturas? Não! Decidimos protocolar hoje (ontem) em respeito à postura de quem quer investigar, e não abafar as denúncias - disse Delgado.

Quem retirar assinatura será denunciado por colegas

O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), avisou que o partido vai fazer uma divulgação pública daqueles que desistirem.

- Retirar uma assinatura já dada não é legítimo, é absolutamente vergonhoso e contribui para o descrédito da vida política brasileira. Se isso ocorrer, vai nos autorizar a pensar que houve barganha espúria. Até em atividades ilícitas há ética - disse Chico Alencar.

Mas a falta de apoio ficou evidente até na hora de protocolar o pedido. Os deputados Júlio Delgado, Augusto Carvalho (PPS-DF) e Chico Alencar tiveram que fazer uma verdadeira peregrinação pelos corredores da Câmara e do Senado e ficar à espera do senador José Nery (PSOL-PA), que estava no Conselho de Ética do Senado e detinha as assinaturas dos senadores para a CPI. Os deputados tiveram que esperar o fim da reunião do Conselho de Ética, que tratava do caso de Renan Calheiros.

- Essa briga eu já entreguei. Agora, vou para a da reforma política - dizia Júlio Delgado, apressado e preocupado com a votação na Câmara.

O líder do governo na Câmara, José Múcio (PTB-PE), já dissera que não estava preocupado com a CPI e fez pressão, evitando novas adesões do PMN.

Já o DEM frustrou a oposição, porque deu apenas 42 de suas 57 assinaturas.