Título: Ainda não decolou
Autor: Rodrigues, Luciana e Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 14/06/2007, Economia, p. 27

País cresceu 4,3% no 1º trimestre, pouco abaixo do esperado. Ritmo da indústria foi bem menor

Luciana Rodrigues e Cássia Almeida

Um crescimento ligeiramente abaixo do esperado, mas que, por trás dos números, mostra uma trajetória melhor da economia brasileira. O Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todos os bens e serviços produzidos pelo país) cresceu 4,3% no primeiro trimestre, frente ao mesmo período de 2006, informou ontem o IBGE. Os analistas projetavam alta maior, de até 4,9%. Mas viram com bons olhos o forte aumento no consumo das famílias, a alta dos investimentos e o crescimento generalizado das atividades produtivas - nos 13 segmentos que integram o PIB, houve expansão. O destaque foi o setor de serviços, que avançou 4,6% em relação ao primeiro trimestre de 2006. Afetada pela queda do dólar, a indústria teve um avanço bem menor, de 3%, no mesmo período.

Na comparação com o último trimestre de 2006, já descontados os efeitos sazonais, a economia cresceu 0,8%, pouco abaixo do 1,1% anterior. Os bens e serviços produzidos somaram R$596 bilhões no primeiro trimestre. Em 12 meses, o PIB acumula alta de 3,8%.

Ao ser perguntado se estava satisfeito com o resultado do PIB, o presidente Lula respondeu com um "mais ou menos". O crescimento do país hoje está abaixo do que espera o governo neste ano (4,5%). Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a economia está sólida e cresce de maneira sustentável há 14 trimestres seguidos:

- Estamos satisfeitos com esse resultado.

Na avaliação de Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE, os números do PIB refletem uma certa estabilidade:

- Não temos mais as oscilações do passado e, há alguns trimestres, o crescimento tem sido constante e com os mesmos destaques: consumo das famílias, investimentos e importações crescendo mais que exportações.

Consumo das famílias é o maior em sete anos

Amparado na oferta de crédito e nos ganhos salariais, o consumo das famílias (que cresce há 14 trimestres) subiu 6% frente ao mesmo período de 2006, maior taxa em sete anos. As importações - de máquinas e equipamentos, mas também de bens de consumo - cresceram 19,1%, bem acima dos 4,2% das exportações. Com isso, a demanda externa teve impacto negativo de 1,5 ponto percentual no PIB, segundo analistas.

A formação bruta de capital fixo, que inclui investimentos em máquinas e equipamentos e na construção civil, também teve forte expansão: 7,2%, na décima terceira alta seguida. Mesmo assim, a taxa de investimento (proporção dos recursos destinados a esse fim sobre o valor do PIB) ficou estável em 17,2%, pois os gastos cresceram, mas, com a queda do dólar, os preços em reais dos equipamentos importados caíram.

A maior surpresa dos analistas foi com a expansão de apenas 0,8% do PIB frente ao último trimestre de 2006, considerando os efeitos sazonais. Mas Fernando Montero, economista da corretora Convenção, lembra que a metodologia de cálculo do PIB mudou e, por isso, a série com ajuste sazonal é recente e mais volátil.

O economista Armando Castelar, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), diz que a expansão de 4,3% do PIB, de certa forma, exagera o desempenho da produção:

- Sem contar os tributos, o crescimento da atividade foi de 3,8%. Os impostos subiram 6,9% no trimestre, bem acima do PIB.

COLABORARAM Geralda Doca e Chico de Gois