Título: Governo consegue enterrar a CPI da Navalha
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 21/06/2007, O País, p. 10

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: "Cumprimos a exigência de ter 171 nomes, mas quatro se prestaram a isso", critica Delgado.

Oposição apresentou mais duas assinaturas de apoio, mas quatro deputados, entre eles Clodovil, retiraram seus nomes.

BRASÍLIA. O governo conseguiu enterrar, definitivamente, a CPI da Navalha. Embora os autores do requerimento tenham obtido, na tarde de anteontem, mais duas assinaturas de deputados - chegando a 171, o mínimo necessário, segundo o regimento -, logo em seguida o governo apresentou outros requerimentos, com a retirada de quatro nomes. Assim, à meia-noite de anteontem, prazo final dado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para que o pedido fosse protocolado, havia apenas 167 assinaturas.

Os quatro deputados que retiraram os nomes foram: Vinícius Carvalho (PTdoB-RJ), Ribamar Alves (PSB-MA), Edgar Mão Branca (PV-BA) e Clodovil Hernandez (PTC-SP). Os líderes governistas tinham em seu poder pelo menos 15 requerimentos de deputados que haviam assinado a CPI e recuaram, concordando com a retirada de seus nomes. Segundo informações da Secretaria-Geral do Senado, já não há mais como reabrir o prazo. Assim, o requerimento será arquivado oficialmente por um despacho do presidente da Casa.

Os autores do requerimento criticaram a atitude dos parlamentares e do governo e se negaram a tentar recolher novos nomes.

- Aí é chicana, não posso acreditar que parlamentares se prestem a isso. Na minha opinião, é chantagem contra o Parlamento. Os que retiraram seus nomes que assumam sua responsabilidade - disse o deputado Augusto Carvalho (PPS-DF), um dos autores do pedido para a instalação da CPI.

- Cumprimos a exigência de ter 171 nomes, mas quatro se prestaram a isso. É o governo contribuindo para desmoralizar o Parlamento. Não correria atrás de mais nomes, porque não aceito fazer dessa CPI manobra de negociação de quem quer que seja - afirmou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), co-autor.

Um dos que retiraram o nome, o deputado Ribamar Alves negou ter sido pressionado a tomar tal atitude. Admitiu, no entanto, que recebeu um pedido da liderança do governo nesse sentido. Ele justificou que aceitou, por entender que a CPI perdeu o sentido.

- Ela perdeu o sentido, porque toda CPI deve enviar os resultados ao Ministério Público, e a Polícia Federal já fez isso. Não recebi pressão, até porque não tenho cargos no governo e não quero. Mas recebi um pedido - disse o deputado.

Alves disse que queria mostrar inocência de aliados

Alves disse ter assinado a CPI porque queria investigações transparentes que pudessem mostrar a inocência de dois aliados no seu estado: o ex-governador José Reinaldo e o atual governador, Jackson Lago. Os outros três que retiraram as assinaturas foram procurados pelo GLOBO, mas não retornaram os pedidos de entrevista.