Título: Tuma investigará Roriz por partilha de dinheiro
Autor: Vasconcelos, Adriana e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 25/06/2007, O País, p. 8

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Senador considera que já deu todas as explicações, e não pretende fazer pronunciamento.

PSOL deve pedir processo contra senador do PMDB, que recebeu cheque de R$2,2 milhões de dono da Gol.

BRASÍLIA. O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), que está no Uruguai, anunciou ontem que iniciará quarta-feira, quando retorna ao Brasil, uma investigação sobre a divisão de dinheiro feita pelo senador Joaquim Roriz (PMDB-DF) e por seu ex-assessor Tarcísio Franklin de Moura, no escritório do dono da Gol, Nenê Constantino, em Brasília. Moura presidiu o Banco de Brasília (BRB) entre 1999 e 2006, quando o senador era governador do Distrito Federal.

Assim como fez no caso do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a executiva nacional do PSOL se reunirá hoje para definir se apresenta representação no Conselho de Ética para investigar as denúncias envolvendo Roriz. Anteontem, senadores governistas e de posição defenderam a abertura de processo contra Roriz.

Moura foi preso na Operação Aquarela, da Polícia Federal, sob acusação de ter desviado cerca de R$50 milhões da instituição. Gravações feitas pela polícia, com autorização judicial, mostraram ele e Roriz combinando a partilha de R$2,2 milhões. O dinheiro seria de Constantino.

O senador, no entanto, considera que não tem mais explicações a dar, especialmente depois que Nenê Constantino, presidente do Conselho Administrativo da Gol, confirmou que deu ao senador um cheque do Banco do Brasil, no valor de R$2,2 milhões, descontado no BRB com a ajuda de Moura. Pela versão do senador, ele ficou com R$300 mil - a título de empréstimo para saldar a compra de uma novilha - e devolveu o restante ao empresário.

- Foi um negócio privado de um empresário com um senador que tem investimentos agropecuários. O único papel do Tarcísio (Moura) foi descontar o cheque. Não há qualquer recurso público na operação. O dinheiro tem origem e destino comprovados. O senador não tem nada a ver com a Operação Aquarela e já esclareceu tudo - disse o assessor de imprensa do senador, Valério Mendes. Roriz não quis dar entrevista.

A expectativa de senador é de que o corregedor do Senado, que participa no Uruguai de reunião do Parlamento do Mercosul, conclua que não há motivo para abrir investigação sobre o assunto. Por intermédio de sua assessoria, Tuma antecipou ontem que pretende solicitar da Polícia Civil do Distrito Federal e do Ministério Público cópia de um relatório sobre as investigações contra Roriz. Em casos como este, o corregedor também costuma convidar o parlamentar para apresentar sua defesa.

Se depender do PSOL, Roriz também terá de dar explicações ao Conselho de Ética. O líder da bancada na Câmara, Chico Alencar (RJ), dava ontem como quase certa a representação do partido contra Roriz. A única preocupação do PSOL é que o novo processo não abafe o que já tramita no Conselho de Ética contra Renan Calheiros.

- É praticamente certo que vamos entrar no Conselho, mas vamos analisar isso amanhã (hoje) com nossos advogados. Há indícios robustos contra o senador Roriz, mas vamos ver a adequação política. Não queremos que um R abafe outro R - disse Chico Alencar, se referindo aos nomes de Roriz e Renan.

- Se os elementos da denúncia forem consistentes, é possível sim que apresentemos a representação. O PSOL não ficará calado diante de denúncias graves - acrescentou José Nery (PSOL-PA).

O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), acredita que é preciso dar a Roriz a chance de apresentar sua defesa. Ele argumentou que as denúncias foram publicadas pela imprensa no fim de semana e que agora é preciso esperar um pronunciamento do parlamentar no Senado a respeito:

- A Roriz, temos que dar a oportunidade de se defender num primeiro momento e, a partir daí, pensar no que fazer.

Anteontem, o líder do PSB, senador Renato Casagrande (ES), também disse que o Senado não tem como deixar de apurar a nova denúncia.

- Não dá para o Senado se fingir de morto - disse ele.

Mas Roriz, segundo sua assessoria, não pretende fazer pronunciamento para se explicar.